Moro na rua das três árvores caídas, na Itacolomi, em Higienópolis. A árvore que desabou durante o temporal de segunda matou um rapaz no meu quarteirão. Minha filha passou por ali quatro horas antes, também em um táxi.

As raízes desgrenhadas de pernas para o ar estão lá, o asfalto barrento. Paro na esquina e imagino quão irreal parece que uma pessoa tenha morrido ali. Sabe-se lá o motivo, vem também a imagem de manchas cor de vinho enferrujado, que é como fica muito sangue seco derramado em asfalto. Quem já viu uma chacina, sabe como é.

A proximidade de um caso de horror causa impressão. Mas horror em São Paulo é maciço. Não fosse a morte horrenda do rapaz, a coincidência das três árvores caídas não seria mais que isso, anedótica, e um agito algo assustador para nós deste bairro de vida amena.

A vizinhança reclama da prefeitura. Tem razão e não tem. Um zelador de um prédio diante de outra árvore derrubada me mostra papéis de pedidos inatendidos de serviço de corte da planta podre.

	Adriano Vizoni/Folhapress
	Após quedas em série, árvores são podadas na rua Itacolomi, em Higienópolis, ontem

Tem jeito? Chove um pouco, os sinais de trânsito pifam. A prefeitura não consegue lidar nem com isso. Não consegue ensinar as quatro operações às crianças. Vai dar conta de árvores em rua de rico?

Uma associação comunitária, com alguma ajuda de subprefeituras, talvez funcionasse. Mas a maioria de nós mal dá trela para os conselhos de participação que existem.

Uma subprefeitura, por sua vez, é uma burocracia barnabé terceirizada para esses vereadores indizíveis. O prefeito tenta mudar o nível da conversa, mas a tigrada é braba. Basta notar quanta gente prefere pagar propina a imposto.

Em lugares mais civilizados, subprefeituras são administradas por profissionais contratados ou estão sob controle de conselhos locais –ou as duas coisas. Aqui, são loteadas para a coalizão do prefeito. Por que um partido quereria uma subprefeitura? Pelo mesmo motivo que quer uma diretoria da Petrobras.

As pessoas com mais recursos não dão a mínima para a cidade. Ao contrário, foram as responsáveis pela construção deste caso terminal de horror urbano e humano, uma elite grossa, jeca, bucaneira e incivilizada. De vez em quando, reclamam uma prefeitura "valet service", para si. O resto que se dane.

Sim, ando ressabiado pela minha rua, com medo de que aquelas sibipirunas tão lindas e ainda mais velhas do que eu desabem sobre Sofia e Manuel, meus filhos.

Cuidar das árvores deveria ser um problema municipal? Pode ser. É possível? Nesta cidade? Se querem um monumento, olhem em torno, para esta Amazônia de puxadinhos, igarapés de esgoto e chacinas. Mesmo se o negócio fosse sério, seria difícil arrumar alguém para cuidar da sibipiruna da minha calçada. Que está para cair.