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    Retrospectiva: E os brasileiros do Sudeste entraram pelo cano

    MARCELO LEITE
    DE SÃO PAULO

    29/12/2014 02h00

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    Represa do Jaguari-Jacareí, do sistema Cantareira
    Represa do Jaguari-Jacareí, do sistema Cantareira

    Este ano se fecha com a promessa de tornar-se o mais quente já registrado desde o século 19. Os brasileiros do Sudeste perceberam isso pelas torneiras, que passaram a manusear de maneira mais comedida na esperança de não vê-las secas de vez.

    A seca que castigou a Grande São Paulo em 2014 –a maior em oito décadas– não pode ser atribuída diretamente à mudança do clima, é verdade. Mas tampouco se pode excluir alguma relação de causa efeito.

    De todo modo, fenômenos extremos como esse compõem o cenário dos impactos esperados do aquecimento global. Como é palpável o risco de que se tornem mais frequentes, muitos especialistas defendem, há anos, que os governos se preparem melhor para a eventualidade.

    Não foi o que ocorreu na cidade de São Paulo. A metrópole, que já não conta com mananciais muito caudalosos, dedica-se com afinco a poluir aqueles que existem.

    Ignorando previsões de que os sistemas de abastecimento disponíveis se esgotariam no futuro próximo, o governo estadual de sucessivas administrações do PSDB permitiu que atrasassem iniciativas cruciais. No período de 2008 a 2013, a estatal paulista Sabesp deixou de aplicar 37% do orçamento previsto para obras.

    Com os níveis de chuva abaixo da média no verão de um ano eleitoral, formou-se a estiagem perfeita.

    Em fevereiro já se sabia que os reservatórios estavam secando, sobretudo os do sistema Cantareira. Candidato à reeleição, o governador tucano Geraldo Alckmin fez de tudo para diminuir a gravidade da situação.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Quando o Cantareira caiu pela primeira vez na história ao nível abaixo de 10%, a Sabesp tomou em maio a providência inusitada de bombear água do "volume morto" do sistema. O governo Alckmin assegurava que bastaria para abastecer a população até março de 2015.

    Não deu nem para o gasto. Muito antes disso, poucos dias após a sua reeleição, em outubro, o governador paulista já buscava autorização para usar um segundo "volume morto".

    Adiou o quanto pôde, também, a medida óbvia de cobrar multas (ou sobretaxas) daqueles que gastam demais.

    Foi preciso que o ano terminasse –com chuvas, mas sem refrescar a situação das represas– para se fazer o que poderia ter sido feito desde o começo do ano. Se as chuvas seguirem escassas, em 2015 ficaremos sem ver água no fim do cano.

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