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    Pai e filho mantém acervo sobre a história de São Sebastião (SP)

    JOSÉ MARQUES
    ENVIADO ESPECIAL AO LITORAL NORTE

    29/12/2014 02h00

    Nos fundos do restaurante que comanda, Nivio Oliveira Faustino, 34, abriu um armário cheio de fotografias, todas emolduradas. "Temos mais de 1.000", afirmou. "Muitas delas da década de 50."

    As imagens retratam o cotidiano e paisagens da praia de Juquehy, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, antes do turismo em massa e da valorização dos terrenos.

    Com o objetivo de "resgatar a história e cultura caiçara", Nivio e o pai, de mesmo nome, 69, mantêm um acervo que também inclui objetos e textos de nativos da região.

    Eles são descendentes de Mãe Bernarda, que recebeu as terras de Juquehy de dom Pedro 2º em 1877.

    Para os dois, "a raça caiçara está em extinção" e precisa ser preservada, mesmo que seja por meio de registros. Com ajuda de amigos, chegaram à coleção atual.

    "Olha essa foto, sou eu criança", disse o tio Osvaldo Faustino, 73, apontando para uma imagem dos anos 50. "A gente era magrelo e barrigudo porque estávamos cheios de lombrigas", riu.

    "Naquela época, não tinha médico aqui. Para ir ao hospital em Santos, só de canoa ou avião", acrescentou.

    Em alguns anos, os Nivios faziam eventos intitulados "resgate caiçara", em 24 de junho, dia de São João -para os habitantes da praia, também é a Festa da Tainha.

    Os dois também contribuíram com a produção de um documentário sobre os caiçaras: "Pés no Chão", de 2011.

    Hoje, eles têm um site (reliquiasdejuquehy.com.br ) com fotos, textos e áudios.

    Uma das fontes para as histórias registradas por eles é José Benedito dos Santos, 105, o mais velho da cidade. Com voz fraca, ele lembra que, para chegar na sede do município, a cerca de 50 km, viajava por um dia, pela praia.

    Outro é o poeta popular Athayde de Izidoro, o Filhinho, morto nos fim dos anos 1990. Em versos de 1993, ele criticava a especulação imobiliária. "Eu nasci neste recanto/ na época nada valia/ não havia comprador/ de graça ninguém queria", dizia.

    MÃE BERNARDA

    Nivio pai e filho fazem questão de dizer que não venderam a forasteiros os terrenos que herdaram.

    Diz a história do município que Mãe Bernarda, que recebeu as terras de Juquehy, dividiu o espólio entre os 27 filhos que teve.

    O restaurante, conta Nivio, o filho, funciona desde 1917, na rua batizada com o nome da matriarca. Ele lamenta que outros conterrâneos não tenham o mesmo apego.

    "Os caiçaras que não tinham visão de futuro acabaram enganados. Pessoas de fora cercaram os terrenos e agora têm a posse", lamenta.

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