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    Sem coleta, moradores jogam lixo na rua e na Prefeitura de Americana (SP)

    LUCAS SAMPAIO
    ENVIADO ESPECIAL A AMERICANA (SP)

    30/12/2014 16h08

    Cansados de conviver com pilhas de lixo cada vez maiores nas ruas da cidade e com o mau cheiro, resultado dos mais de 20 dias sem coleta, moradores de Americana (a 127 km de São Paulo) decidiram depositar seu próprio lixo no meio da rua e em frente à prefeitura.

    "Estamos jogando na rua para ver se o caminhão passa. Semana passada funcionou", diz Alexandre Santos Silva, 38, frentista que mora na Praia Azul, bairro em que os sacos estão sendo colocados nos cruzamentos das ruas, em cima da sinalização de "Pare".

    "É uma vergonha, a cidade está ridícula. Faz mais de 15 dias que não passa o caminhão de lixo", indigna-se Josmaiara Magrini, 24, auxiliar de cobrança que mora ao lado de uma pilha de lixo no Jardim Belvedere. Grávida de sete meses, ela diz que bichos estão entrando em sua garagem. "E o cheiro só vai piorar, ainda mais com esse calor."

    Apesar de a situação ser mais crítica nos bairros, onde há sacos e entulho em quase todas as esquinas, o lixo está espalhando nos canteiros centrais de grandes avenidas, nas praças e ao lado da basílica de Americana

    "O lixo está em cima das bocas de lobo. Quando vier a chuva de verdade vai entupir tudo e alagar as avenidas. Vai virar uma desgraça", diz Joaquim Pedro Soares, 52, que trabalha em uma loja de artesanato do Mercado Municipal.

    Nesta terça (30), sacos de lixos, garrafas de plástico e cascas de laranja foram jogados também no Paço Municipal.

    Um protesto marcado para as 12h desta quarta (31), que já tem mais de 1.900 confirmações nas redes sociais, convoca os moradores a levarem seu lixo à prefeitura para protestar "contra o descaso que a cidade enfrenta por causa da má administração".

    Procurada, a Prefeitura de Americana não se manifestou sobre o assunto. A Folha não conseguiu contato com o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Americana.

    CRISE POLÍTICA

    Americana há meses vive uma crise política que resultou em mudanças de prefeito, greve de servidores municipais, falta de pagamento a fornecedores e de remédios na rede pública, postos de saúde e escolas fechadas e toneladas de lixo não recolhido.

    Em maio, o então prefeito da cidade, Diego de Nadai (PSDB), e seu vice, Seme Calil Canfour (PSB), foram cassados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e declarados inelegíveis por oito anos por abuso de poder econômico na eleição de 2012, quando foram reeleitos.

    O então presidente da Câmara Municipal, Paulo Chocolate (PSC), que assumiria interinamente o cargo até que uma nova eleição fosse marcada, anunciou que sua primeira medida ao tomar posse seria nomear Diego como seu secretário de Governo.

    Chocolate recuou da decisão após a repercussão negativa da medida, e o tucano conseguiu voltar ao cargo em julho, após decisão liminar do vice-presidente do TSE e ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.

    A eleição foi marcada para o início de dezembro, Chocolate voltou a ser prefeito interino e concorreu ao mandato "tampão" de dois anos, mas teve apenas 6,14% dos votos e perdeu a eleição para o empresário do setor têxtil Omar Najar (PMDB), que teve 75,51% e assume em 9 de janeiro.

    "Como ele [Chocolate] se candidatou e não ganhou, não vai fazer nada e deixar tudo para o próximo prefeito", diz Sandra Queiroz, 50, operadora de máquinas que afirma ter votado em Chocolate para vereador, mas não para prefeito.

    "Como vereador ele era muito bom. Mas depois que assumiu a prefeitura ele decepcionou. A primeira coisa que ele fez foi dar uma secretaria para o prefeito cassado, aí ninguém confiou mais nele", diz Sandra, que está a mais de 20 dias sem coleta de lixo na porta de casa.

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