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    'Perdi as contas de quantos já enterrei', diz ex-traficante

    WILLIAM DE LUCCA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, em JOÃO PESSOA

    05/01/2015 02h00

    Crimes violentos contra jovens negros fazem parte do cotidiano das periferias das grandes cidades da Paraíba, como João Pessoa, Campina Grande e Santa Rita.

    O Estado é onde um jovem preto e pardo corre 13 vezes o risco de um branco de ser vítima de homicídio e ocupa o topo do ranking criado no Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade.

    "Já perdi as contas de quantos amigos eu enterrei, mas não foram menos do que 30 pessoas", diz Mônica Guimarães, 36, ex-traficante que luta para tirar o filho de 16 anos do crime.

    Há três meses, o rapaz quase virou estatística. Em uma abordagem policial, ele foi baleado no peito na fuga. Ficou um mês internado.

    A ex-traficante mora no bairro de Mangabeira, o mais populoso da capital, e diz que a maioria de seus amigos morreu na guerra entre as facções de João Pessoa: a Okaida –nome foi inspirado no grupo terrorista Al Qaeda- e a Estados Unidos, criada para rivalizar com ela.

    Ela atribui a alta mortalidade de jovens negros ao racismo e à situação socioeconômica desse grupo.

    "A guerra entre as facções mata muita gente, mas é tudo gente pobre, e a maioria dos negros é pobre. Quando não é por facção, morre nas mãos da polícia", diz. "A gente vive nessa vida porque tem que manter a família, e o desemprego é grande. Quando a pessoa vai presa ou já teve envolvimento, não arruma emprego de jeito nenhum."

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