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    Filme sobre brasileiro executado terá de ser modificado, afirma cineasta

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    18/01/2015 18h40

    O cineasta Marcos Prado produzia um documentário sobre o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, 53, executado neste sábado (17) pelo governo da Indonésia por tráfico de drogas, mas, devido ao desfecho do caso, terá de mudar o projeto.

    Prado estava em fase inicial da produção de um "filme de personagem", que contaria a história do brasileiro e mostraria sua vida após a liberação. Segundo o cineasta disse à Folha, com a execução do brasileiro, o projeto terá de ser repensado.

    "Um 'filme de personagem' com um final trágico como esse não vai funcionar. Talvez tenhamos que mudar um pouco o foco, para, quem sabe, um filme sobre pena de morte, diferenças culturais e legais entre os países, diplomacia, corrupção, enfim, algo mais abrangente do que simplesmente a vida do Curumim", disse, se referindo a Archer pelo seu apelido no Rio de Janeiro.

    O projeto do documentário, explicou Prado, surgiu em 2012 por vontade do próprio Archer, que fez contato por meio de seu advogado. O cineasta chegou a visitar o brasileiro na prisão em julho de 2013 para conversar sobre o filme. Depois de ter sua execução adiada uma vez, o brasileiro acreditava que poderia ser solto alguns anos mais tarde.

    Archer era instrutor de asa delta e foi preso em 2003 tentando entrar na Indonésia com 13,4 kg de cocaína. Ele foi executado pelo governo da Indonésia após ter dois pedidos de clemência negados. Um segundo brasileiro, Rodrigo Gularte, também condenado por tráfico de drogas, está na mesma situação, mas ainda não teve sua execução marcada.

    "Ele sempre soube como era a lei na Indonésia, mas acreditava que não seria morto. Ele sempre lembrava que tinham muitos casos de pessoas que, graças à corrupção naquele país, conseguiam escapar da pena de morte. Ele também falava muito que, por ter passado por alguns acidentes de asa delta, tinha sete vidas e que não chegaria a ser executado", afirmou.

    Beawiharta/Reuters
    O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, executado na Indonésia neste sábado (17)
    O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, executado na Indonésia neste sábado (17)

    Após o encontro, o cineasta deu início à gravação de entrevistas com amigos e até desafetos de Archer. Os dois, disse, nunca foram amigos íntimos, mas se conheciam da praia do Pepe, na Barra da Tijuca, onde várias tribos se reuniam na década de 1980.

    Inicialmente, o filme seria feito devagar, porque levaria tempo para o brasileiro ser solto. Depois de sua possível liberdade, a ideia era filmar sua rotina de volta ao Brasil por mais uns dois anos e finalizar a obra de quatro a seis anos após seu retorno. Prado, contudo, recebeu com surpresa a informação de que o da Indonésia havia marcado a data para a execução.

    Foi Prado quem gravou a última mensagem de Archer aos brasileiros. Os dois se falaram por telefone na última terça-feira (13) e o áudio da conversa foi postado pelo cineasta no Youtube, com o título "Não Executem o Curumim".

    Na mensagem, acessada por cerca de 209 mil pessoas, o brasileiro diz estar sofrendo e ter consciência de que seu erro foi grave. Ele diz ainda que seu sonho seria voltar ao Brasil para servir de exemplo aos jovens de como sua escolha foi ruim para sua vida.

    Prado, que produziu os filmes Tropa de Elite I e II e Ônibus 174, além de ter dirigido os premiados Paraísos Artificiais, de ficção, e Estamira, documentário, afirmou ser contra a pena de morte.

    "A pena de morte é um instrumento muito perigoso porque dá poderes demais ao Estado. Eu acredito em prisão perpétua para crimes de ódio, estupro, mas para tráfico, que também é um crime grave, não precisa ser algo tão severo. Num caso como esse, a pessoa tem que ter o direito de se arrepender do que fez e ter uma segunda chance", disse Prado.

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