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    Volta dos arrastões não afasta banhistas da praia do Arpoador

    FABIO BRISOLLA
    DO RIO

    25/01/2015 02h00

    A praia do Arpoador sempre marcou o verão carioca. Nesse trecho da orla de Ipanema, o Rio descobriu o surfe, o biquíni e até uma modalidade de crime: os arrastões.

    Na atual estação, o lugar volta a registrar roubos em série a banhistas, que, ainda assim, lotam as areias.

    "O mundo quer vir para o Arpoador. Acho bacana isso, porque vivo neste lugar desde 1937 e entendo por que as pessoas gostam tanto daqui. O que não dá para aceitar é a baderna", afirma Angelo Vivacqua, 81, que mora em um prédio com vista para o mar e localizado a poucos metros da areia da praia.

    Em coro com outros frequentadores, ele elogia a beleza do lugar, mas lamenta o retorno dos roubos registrados nas últimas semanas. "Não vou mais à praia aos sábados e domingos. Não tem nem onde fincar a barraca. É como um estádio lotado", afirma Vivacqua.

    Morador de Ipanema, o empresário Raul Gonçalves, 53, também deixou de ir à praia nos fins de semana. "Isso aqui virou um inferno, uma terra de ninguém. Agridem as pessoas, roubam e ninguém faz nada", diz.

    Há duas semanas, no domingo (11), a reportagem da Folha testemunhou cinco roubos em duas horas. Na ocasião, 13 suspeitos foram detidos pela polícia.

    Diante dos episódios de violência, a Polícia Militar anunciou reforço no policiamento e decidiu promover revistas a passageiros nos ônibus vindos da periferia. A ampliação na chamada Operação Verão teve início no fim de semana passado.

    Segundo o subchefe operacional da PM, Claudio Lima Freire, a prioridade é identificar passageiros que causem "tumulto e desordem" dentro dos coletivos.

    O esquema especial de policiamento continua neste domingo (25). De acordo com a PM, a operação envolve 800 policiais por dia nos bairros de Botafogo, Flamengo, Leme, Copacabana, Leblon, Ipanema, Barra e Recreio. Só no Arpoador haverá duas torres de observação.

    ADMIRAÇÃO

    O hábito de aplaudir o pôr do sol no Arpoador surgiu no início da década de 1960. E, até hoje, o ponto provoca fascínio em cariocas e turistas. Um deles é Michael Cristian de Souza, 18, que saiu de sua casa em Costa Barros, na zona norte do Rio, para ver pela primeira vez o mar.

    Chegou ao Arpoador acompanhado por um grupo de amigos do mesmo bairro. "Meu pai é evangélico. A religião não permite esse negócio de mulher de biquíni. Por isso, eu ia mais à cachoeira, um lugar mais tranquilo, mais cristão. Praia mesmo, essa foi a primeira vez", conta o jovem, sem esconder o entusiasmo pelo lugar.

    "Gosto do Arpoador porque é uma praia popular, onde tem gente de tudo quanto é lugar. Somos seres humanos e também temos direito de aproveitar o sol, o mar e essa cervejinha gelada", brinca Luiz Felipe Correia de Coelho, 21, que trabalha como malabarista na zona sul.

    O turista holandês Martyn Wolff, 31, era outro a apreciar o Arpoador pela primeira vez, com três amigos de seu país. "Vim aqui porque soube que era o melhor lugar para ver o entardecer."

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    HISTÓRIAS DO ARPOADOR

    MODA PRAIA
    Em 1936, a alemã Miriam Etz, com 22 anos, estreou no Arpoador um traje de banho de duas peças (que precedeu o biquíni), até então inédito em praias cariocas

    PIONEIROS NA PRANCHA
    Quatro jovens de Ipanema -Bisão, George Grande, Rubinho e Jonjoca- foram os primeiros surfistas do Rio. Iniciaram a prática da no Arpoador, em 1947, com pranchas de madeira oca

    TRADIÇÃO
    O hábito de aplaudir o pôr do sol no Arpoador surgiu no início da década de 1960

    CAMPEONATO
    Nas ondas do Arpoador, em 1976, Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o Pepê, se tornou o primeiro brasileiro a vencer uma etapa do Circuito Mundial de Surfe

    AGITO
    No mês de janeiro de 1982, o agitador cultural Perfeito Fortuna conseguiu autorização para armar uma tenda de circo no Arpoador, onde promoveu uma série de atividades culturais. Era o início do Circo Voador. O evento durou três meses e, depois, migrou para a Lapa

    ASSALTO EM SÉRIE
    Com roubos em série nas areias do Arpoador e de Ipanema, o arrastão virou manchete dos jornais no fim de 1991. No verão de 2015, esse crime volta a ser notícia

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