• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 14:06:31 -03

    Prefeitura de São Paulo dá bolsa para travesti completar educação básica

    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    29/01/2015 11h05

    A travesti Janaína Santos, 46, gostaria de estudar filosofia. "Pra usar como arma," diz ela, que parou de estudar na oitava série e foi para a Europa se prostituir aos 18 anos.

    Ela, que conta ter escrito um livro sobre como se livrar do crack "com estilo", é uma das cem selecionadas no programa Transcidadania, que será lançado pela Prefeitura de São Paulo nesta quinta-feira (29).

    Sob coordenação da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, a iniciativa dará bolsas de R$ 840 durante dois anos para travestis e transexuais completarem a educação básica e custará cerca de R$ 3 milhões em 2015 e 2016.

    De acordo com Rogério Sottili, secretário da SMDHC, há entre 3.000 e 4.000 travestis e transexuais na cidade de São Paulo. Deste total, 60% não tem o ensino fundamental completo.

    "Elas nem chegam a enfrentar a discriminação do mercado de trabalho, porque são não empregáveis antes disso," afirma Alessandro Melchior, coordenador de políticas LGBT da gestão Haddad.

    Além de ter largado os estudos, os candidatos –homens transexuais podem se inscrever, embora a grande maioria das beneficiadas sejam travestis– não podem ter emprego formal e devem viver com renda menor que meio salário mínimo per capita.

    Também não podem ter participado de outro programa do governo, que não o Bolsa Família, para terem direito ao benefício.

    Além das aulas nos CIEJAs (Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos), também serão oferecidos cursos em áreas como maquiagem e costura e um semestre de aulas profissionalizantes escolhidas pela coordenação do programa, ainda não definidas.

    "Queremos que elas possam ser o que quiserem: secretárias, diretoras, telefonistas, motoristas de ônibus...", diz Sottili.

    A eficácia do projeto, no entanto, não é consenso dentro do próprio movimento LGBT.Ativistas do movimento transexual ouvidos pela Folha apontam que a incerteza de emprego após os dois anos é um dos principais problemas do programa.

    "Tem muita transexual com ensino superior que está desempregada," afirma Daniela Andrade, 33, analista de sistemas e ativista transexual. "Travesti não concorre com travesti. O mercado te discrimina por causa da sua identidade de gênero, não da qualificação."

    Algumas das soluções apontadas seriam as parcerias com empresas com isenção fiscal e cotas. Melchior afirma que o Transcidadania pretende estabelecer parcerias com empresas como Google e IBM, que têm políticas de inclusão LGBT.

    "Uma iniciativa para contratação agora seria residual, porque quantas delas tem nível superior? Uma, duas em dez. Essas empresas contratam mão de obra qualificada."

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024