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    Crise da água

    Com crise hídrica, salões sugerem técnicas para lavar e cortar os cabelos

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    30/01/2015 02h00

    A escassez de água levou os salões de beleza em São Paulo a inventar técnicas de crise para manter a aparência dos clientes.

    O tempo em que se lavava o cabelo duas ou três vezes, com direito a massagem e água morna, ficou para trás.

    Agora, cabeleireiros sugerem corte a seco, pedem para os clientes chegarem com a cabeça lavada ou resolvem a questão com algumas borrifadas de água.

    Fazer reflexo ou tintura virou tarefa inglória. Salões lamentam não ter água suficiente para os enxágues abundantes necessários para remover a química. E esses são os procedimentos mais lucrativos.

    Os proprietários dizem ainda não saber qual será o tamanho do prejuízo que a crise da água pode trazer, mas se preparam para tempos difíceis.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Em salão de Higienópolis, o cabeleireiro João Boccaletto umedece o cabelo antes, para depois enxaguar
    Em salão de Higienópolis, o cabeleireiro João Boccaletto umedece o cabelo antes, para depois enxaguar

    Alguns salões chegam a oferecer lavagem com água gelada tirada num balde da caixa-d'água, mas as mulheres não costumam aceitar.

    Alessandro Tiso, 40, do salão Tiso, em Perdizes (zona oeste), tem tentado remanejar os clientes para as manhãs, antes de o abastecimento da Sabesp ser interrompido.

    "Se a pessoa reluta, não tem como fazer", conta. "O telefone ficou mais quieto."

    O Studio W, com unidades nos shoppings Iguatemi e JK, entre outras, fez um pacote de medidas. A água com que se lava os fios se usa para limpar pinceis de tintura. A toalha usada para secar o cabelo de uma cliente serve para acomodá-la no lavatório.

    "Para as mulheres que têm cabelo bem liso, a gente sugere fazer corte a seco. Elas não são obrigadas, mas têm a possibilidade", conta a diretora Rosângela Barchetta.

    'XAMPU SECO'

    Uma alternativa é o "xampu seco", um produto que tira a oleosidade dos fios e dispensa enxágue. Antes comum em nécessaires femininas, agora é também recomendado por cabeleireiros.

    "A menina pode lavar o cabelo em um dia, passar 'xampu seco' e dar uma 'escovadona' no seguinte e, no terceiro, faz um 'presinho' básico. Vai economizar bem", diz o cabeleireiro Celso Kamura.

    "Qualquer cabelo pode ficar mais de um dia sem lavar. É meio noia [lavar todos os dias]. A oleosidade é a melhor hidratação", pondera.

    João Boccaletto, sócio do salão Lab. Duda Molinos, em Higienópolis, tem sugerido uma lavagem econômica. Começa com a cliente na cadeira. Ele umedece o cabelo com um borrifador, passa xampu, massageia o couro cabeludo e só depois a leva ao lavatório.

    Boccaletto também prioriza emolientes para fazer mãos e pés. "Mas sempre aparece uma pirada que quer pôr o pé naquela bacia branca velha cheia de água", comenta.

    Sua cliente, a jornalista Camila Gabriel, 37, aprova as medidas. "Se não fizer diferença pra mim e fizer diferença para a economia, acho incrível", diz. Mas, quando vai ao salão, ela se despreocupa.

    "Eu terceirizo o problema. Não tenho como controlar a quantidade de água que a profissional usa", reconhece.

    A rede Soho enfrentou problemas. A unidade da Vila Mariana (zona sul) chegou a ficar quatro dias sem água. Com a crise, a rede passou a sugerir água borrifada em vez da lavagem. A receita do serviço "caiu drasticamente", segundo a rede, mas surtiu efeito.

    Em dezembro de 2013, 92% dos clientes que cortavam o cabelo também lavavam. No mesmo mês de 2014, 11% mantiveram a dobradinha.

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