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    Crise da água

    Moradores de prédio em SP 'escutam' canos para vigiar banho dos vizinhos

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    01/02/2015 02h00

    O agravamento da crise da água começa a exasperar a população de São Paulo.

    Avisos em condomínios alertando moradores do esvaziamento da caixa-d'água são comuns. Mas um condomínio na região da Lapa, zona oeste, foi mais incisivo.

    Um cartaz espalhado pelo edifício informa que moradores, "preocupados com o racionamento", têm constado condutas irresponsáveis.

    "Estão sendo observados, através dos encanamentos, banhos com mais de 30 minutos" e que descargas são acionadas "insistente e ininterruptamente", diz o alerta.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Os vizinhos Catherine Sabbagh e Aristides Costa em prédio que 'vigia' banho de morador
    Os vizinhos Catherine Sabbagh e Aristides Costa em prédio que 'vigia' banho de morador

    O administrador do prédio, que assina o comunicado, pede, "gentilmente", que os moradores evitem o desperdício, para que não seja necessário recorrer a "meios radicais".

    Ele incentiva que todos sejam "guardiões da água".

    Uma moradora se disse "surpresa". "Tem uma turminha que não faz nada, que fica controlando. O prédio tem muitos aposentados", palpitou, sobre a origem do aviso.

    A fisioterapeuta Catherine Sabbagh, 26, considerou o teor do cartaz "invasivo". "Se eu vou ao banheiro 30 vezes por dia ou uma só, é problema meu", opinou.

    "TÁ DIFÍCIL"

    No geral, o comunicado foi bem recebido. Uma pesquisadora que pediu para não ser identificada disse que os vizinhos têm de "se policiar uns aos outros".

    Para ela, a medida deveria ser até mais rigorosa. "Tem gente demorando mais de dez minutos no banho. Hoje em dia, está difícil."

    Diversos condôminos afirmaram à Folha que é possível ouvir o uso da descarga e da máquina de lavar roupas do vizinho do apartamento de cima, mas não o do chuveiro. E que "vai da consciência de cada um" fazer um uso racional da água.

    A síndica, servidora aposentada da Receita Federal, disse que "não custa nada" fazer o alerta. Para Elza Silva, 71, é "um aviso geral". "Você não conhece os hábitos de todos os condôminos".

    Um outro morador, que também não quis ter o nome publicado, disse que há alguns meses o prédio sofreu um alagamento, porque um vizinho deixou uma torneira aberta por bastante tempo.

    O resultado: rolou água pela escada, pelo hall e entrou em apartamentos.

    O aviso é "positivo", opinou a designer Patrícia Lobo, 32. "Do jeito que está, tem que ter consciência."

    O empresário Leandro Stelitano, 39, que é de Salvador e estava de passagem no prédio na última sexta-feira (30) para visitar a sogra, achou "estranho". "No meu prédio, tem medidor. Você sabe quanto cada apartamento gasta", comparou. Para ele, a reação é um exagero. "No Nordeste, não tem água há 500 anos e ninguém faz nada."

    A Folha não localizou a administradora do edifício.

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