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    Crise da água

    Billings recebe sujeira do rio Pinheiros e tem água verde devido a bactérias

    EMILIO SANT'ANNA
    JORGE ARAUJO
    DE SÃO PAULO

    01/02/2015 02h00

    Vista lá de cima, a Billings é verde. Lembra o mar do Caribe. Lá embaixo, porém, a boa impressão não dura muito. De perto, as águas da represa realmente são na maior parte do tempo cor de esmeralda, mas os motivos par isso não animam ninguém a mergulhar por ali.

    Em meio ao esgoto despejado diariamente no reservatório, são as cianobactérias –microrganismos que se proliferam na presença de material orgânico em decomposição–as responsáveis por deixar a superfície verde. Ou seja, o motivo está mesmo no lixo.

    A monotonia cromática só é quebrada quando a usina de Pedreira é acionada para reverter as águas do rio Pinheiros em direção ao reservatório, na zona sul da capital.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Na quarta (28), a reportagem presenciou os efeitos da reversão do rio –criticada por moradores, ambientalistas e pesquisadores– quando sobrevoava a região com o professor de Engenharia Química da Unifesp Werner Hanisch, que estuda a proliferação das cianobactérias.

    Na quinta (29), voltou ao local para ver os efeitos desse "corredor de sujeira".

    Segundo resolução do governo do Estado, a reversão só é autorizada para controle de possíveis cheias no rio. A medida é vetada pela Constituição estadual em qualquer outra situação. Havia chovido na terça (27).

    Além do forte odor característico do rio tomar a maior parte do corpo principal da represa e os braços mais próximos à usina, o lixo se espalhava pelas águas.

    "Não é só a poluição do rio que vem parar aqui. É a sujeira da cidade inteira, que a chuva lava e vai parar no Tietê e no Pinheiros ", diz o advogado e ambientalista Virgílio Alcides de Farias.

    Com o vento e a correnteza, a poluição é levada para os braços mais próximos da usina e, ali, se junta ao esgoto.

    Num desses braços, em frente ao bairro de Pedreira, tornou-se quase impossível navegar. Qualquer barco ou lancha encalha no lixo.

    A sujeira também é levada para pontos mais distantes. No braço Taquacetuba, onde é feita a captação para a Guarapiranga, a proliferação de cianobactérias indica a presença de poluição.

    Procurada, a responsável pela reversão do Pinheiros, a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), estatal ligada ao governo de SP, não diz quantas vezes, neste ano e em 2014, a usina foi acionada com essa finalidade.

    Também não informou se o rio corria risco de transbordar na quarta e qual o volume despejado na represa –que está com 60,8% da capacidade e, na última semana, subiu 2,3 pontos percentuais.

    "Estão elevando o nível do reservatório com a água do rio", diz Jocelito Calado Lima, 52, bombeiro aposentado que mora na margem da Billings.

    Na quinta-feira, enquanto levava a reportagem pelas águas da Billings, Calado usou uma luva de látex para se livrar dos sacos de lixo enroscados no motor de sua lancha. "Não vou colocar a mão aqui."

    Na sexta (30), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que, por ora, não pretende usar a terceira cota do volume morto do Cantareira, que operava neste sábado com 5,1% da capacidade.

    Segundo ele, uma adutora será construída até maio para levar água do rio Grande, um braço mais limpo da Billings, para o Alto Tietê, cujo nível estava em 10,8% ontem.

    Com a obra, o sistema ganharia 4 m³/s de água, o equivalente a 7,5% da produção de água da Grande São Paulo. Atualmente, a Sabesp capta 7,69 m³/s da Billings.

    COLABOROU FABRÍCIO LOBEL

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