Eram 16h e o dia ainda estava tipicamente quente para um janeiro na praia de Toc Toc Pequeno, em São Sebastião, litoral norte de SP. Daniel Solai, 28, deixou o filho de sete anos na areia e avisou a mulher que daria o último mergulho antes de irem embora. Com água calma pela cintura, pulou e bateu a cabeça em um banco de areia.
Os acidentes graves ocorridos no verão, como saltar de cabeça em águas rasas de piscinas ou escorregar em pedras de cachoeiras, representam a principal causa de internação, entre janeiro e março, nos hospitais da Rede de Reabilitação Lucy Montoro, de São Paulo.
A estatística realizada pela instituição, revela ainda que em 90% das vezes os quadros evoluem para restrição severa de movimentos dos membros, a tetraplegia, como é o caso de Solai, que lesionou as vértebras C4 e C5, em janeiro do ano passado.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
O programador de informática Daniel Solai,28, ficou tetraplégico após acidente em praia de SP |
"Na hora eu percebi que algo grave tinha acontecido comigo, não conseguia mexer o corpo. Fiquei de bruços na água rezando para que a minha mulher entendesse que aquilo não era uma brincadeira e que eu precisava de ajuda", diz Solai, que agora prepara-se para uma vida nova, como cadeirante.
Segundo os especialistas da rede Lucy, a falta de cautela, de atenção e de informação, o excesso de confiança e de entusiasmo, as brincadeiras exageradas e o consumo de álcool são razões típicas que levam a um acidente grave de verão em praias, piscinas, rios e cachoeiras.
As vítimas mais comuns são jovens entre 25 e 35 anos.
Daniel Rubio, diretor médico da rede, alerta que os banhistas devem redobrar o cuidado ao mergulhar em águas desconhecidas.
"Evita saltar de lugares muito altos e não fazer 'saltos ornamentais' também ajudam a prevenir acidentes."
EUFORIA
O publicitário Marcos Alencar, 39, estava havia quatro anos sem férias, em 2011. Foi para o Pará relaxar com amigos. Eufórico, saltou do segundo andar de um barco atracado no rio Tapajós (PA), às véspera do Réveillon.
"Não me atentei para o nível do rio, para analisar melhor o perigo. Só pulei. Quando bati a cabeça no fundo, senti uma carga elétrica em todo o meu corpo. Fiquei por volta de um minuto com a cabeça dentro da água tentando relaxar e guardar o fôlego até ser socorrido", declara.
Para o médico fisiatra André Sugawara, falta mais informação às pessoas sobre precauções e riscos ao lançar o corpo sobre a água.
"A maior parte dos acidentes acontece em momentos de lazer, quando se está relaxado, em situações de diversão. É preciso que haja mais alertas e advertências de riscos, de várias maneiras, visuais e escritas, nas praias, nas cachoeiras e também para as famílias", afirma.
Em 2014, 450 pacientes foram internados na rede Lucy para reabilitação, sendo que 30% deles hospitalizados em decorrência de acidentes por queda, onde estão incluídos os casos de mergulho.
Segundo Sugawara, a falta de conhecimento para realizar o socorro de vítimas em rios, cachoeiras, piscinas etc acaba por gerar, com frequência, um segundo acidente.