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    Crise da água

    Paulistanos apostam na segunda caixa-d'água para enfrentar provável rodízio

    GABRIELY ARAUJO
    MOACYR LOPES JUNIOR
    EMILIO SANT'ANNA
    DE SÃO PAULO

    03/02/2015 02h00

    Sem nada é que não dá para ficar. Antes que um cada vez mais provável rodízio o atinja, o paulistano precavido resolveu fazer uma aposta.

    No telhado da casa do segurança Marcelo de Lima Caraça, 38, no Parque Peruche, onde antes havia uma, agora duas caixas-d'água são a esperança das cinco pessoas da família para enfrentar secura ainda maior que deve chegar.

    Na região do bairro da zona norte de São Paulo, a redução da pressão da água informada pela Sabesp começa às 13h e se estende até as 4h.

    Em novembro do ano passado, o ex-secretário estadual Mauro Arce (Recursos Hídricos) disse que o problema da falta de água, na época, se devia à ausência de caixas-d'água adequadas nas residências, referindo-se à norma da ABNT que indica reservatórios com 500 litros para casas pequenas, ou o suficiente para 24 horas de abastecimento.

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    O encanador Antônio dos Santos, 40, que lucra com o aumento da demanda por caixas-d'água
    O encanador Antônio dos Santos, 40, que lucra com o aumento da demanda por caixas-d'água

    Marcelo é inquilino. Mesmo assim, ele resolveu ampliar a capacidade de armazenamento e deixar para o proprietário o investimento. A caixa antiga é de 500 litros. Na nova, cabe o dobro.

    "Não dá para chegar em casa depois de um dia de trabalho e não poder tomar um banho", reclama o segurança.

    Ele conta que a obra lhe custou R$ 750, entre o valor da nova caixa-d'água e a mão de obra do encanador.

    Mesmo assim, ele quase ficou sem ter em que se fiar. "No mesmo dia em que comprei, a tia da minha mulher foi atrás e não encontrou mais nenhuma. Teve que encomendar para daqui a 15 dias."

    Como a Folha mostrou no sábado (31), após a Sabesp ter admitido na semana passada a possibilidade da adoção de um rodízio, começou uma corrida às lojas de material de construção em busca de qualquer tipo de reservatório.

    Modelos maiores –como os de 5.000 litros– já faltavam desde a semana passada nas maiores redes varejistas.

    Azar de quem quer apostar, sorte dos encanadores.

    Fora a falta de água, Antônio Moreira dos Santos, 40, não tem do que se queixar. Quem quiser contratá-lo vai ter que esperar "uns 15 dias mais ou menos", afirma.

    "Na terça tenho mais duas para instalar. Na quarta, tenho outra. E assim vai", diz.

    DEFESA

    O excesso de trabalho de Santos, exemplifica o professor de hidrologia da Feevale e da UFRGS Carlos Eduardo Morelli Tucci, não se deve a um fenômeno exclusivo dos paulistas. "Em Tegucigalpa, capital de Honduras, há mais de 10 anos há problemas de abastecimento. O que a população fez? Saiu instalando caixas-d'água cada vez maiores."

    O especialista, contudo, não acredita que as pessoas que agora apostam na capacidade maior de armazenamento possam prejudicar um eventual rodízio, reduzindo menos o consumo do que o resto da população.

    Ele explica que o nível de consumo de uma família de três pessoas é de cerca de 500 litros de água por dia. Ao se somar uma nova caixa de 1.000 litros a outra com a metade dessa capacidade a reserva seria suficiente para não mais do que três dias.

    Ou seja, as pessoas vão ter que diminuir o consumo diário e se adaptar ao rodízio.

    Santos conhece o problema de perto. Problema maior, no entanto, é a falta de tempo para se precaver e fazer em sua própria casa o que cobra para fazer na dos outros. "Por enquanto, tudo bem, mas logo a mulher vai reclamar."

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