Ao mesmo tempo em que provoca críticas por autorizar grafites em um monumento tombado, a Prefeitura de São Paulo deixa ao abandono outras obras expressivas.
Esse é o caso dos murais de Clovis Graciano, localizado na avenida Moreira Guimarães, em Indianópolis (zona sul). Inaugurado no aniversário da cidade em 1969, a obra está suja, com azulejos quebrados ou faltando. "Eles [os murais] ficaram meio órfãos", diz o arquiteto e professor da FAU-SP Lúcio Gomes.
A obra, que narra o desenvolvimento de São Paulo, é feita em cerâmica, com quatro painéis de 3,5 metros de altura por 10 de comprimento. Os murais não são tombados e, segundo a Secretaria Municipal da Cultura, são de responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico.
Ao ser questionada sobre a preservação do local, a prefeitura afirmou que realiza limpeza periódica –com intervalos máximos de três meses– e que o mural deverá passar por restauração em breve, embora não tenha dado uma data específica.
"Não existe uma sistemática de manutenção de monumentos em São Paulo", afirma o professor da USP, lembrando dos recentes grafites autorizados pela prefeitura no monumento conhecido como Arcos do Jânio, na região de avenida 23 de Maio, no centro da capital paulista.
"Tem uma obra no largo do Arouche que está toda pichada. A de Tomie Ohtake, na 23 de Maio, volta e meia tem um engraçadinho que resolve pintar", acrescenta.
Walter Pires, ex-vice presidente do Conpresp (conselho municipal de preservação), diz que há um esforço da prefeitura para manter os monumentos, mas destaca que o grande número de vandalismo e desgaste, em uma cidade do tamanho de São Paulo, torna o trabalho complexo.
"Também é preciso apoio da população para avisar a prefeitura quando tem problema", completa.