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    Rio de Janeiro

    Carro com jovens é fuzilado por militares no Rio

    DIANA BRITO
    DO RIO

    13/02/2015 17h27 Erramos: o texto foi alterado

    Um carro com jovens foi fuzilado por militares da Força de Pacificação do Exército, na madrugada de quinta-feira (12), por volta das 3h, na favela Salsa e Merengue, no Complexo da Maré, zona norte do Rio.

    O motorista e outros quatro passageiros ficaram feridos. Vitor Santiago Borges, 29, permanece internado em coma nesta sexta no Hospital Estadual Getúlio Varga, na Penha, na mesma região.

    Parentes e amigos de Borges ouvidos pela Folha disseram que os militares atiraram contra o carro - modelo Palio, de cor branca – dos jovens sem sequer pedir que eles parassem. A maioria dos tiros de fuzil atingiram a lateral do carona, onde o rapaz estava sentado. Ele foi baleado no tórax e, segundo testemunhas, ainda tomou outro tiro nas pernas quando deixava o veículo.

    "A gente saiu do carro gritando: 'não tem ninguém armado. É tudo trabalhador'. Aí ouvi mais disparo. Só vi a perna dele [Vitor] toda estraçalhada", contou Jefferson Lima da Silva, 20, um dos jovens que estava no veículo.

    Silva afirmou ainda que logo depois do episódio todos foram levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região. Segundo ele, o atendimento na emergência foi agilizado a pedido dos militares, que em seguida levaram os jovens para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, onde ficaram até as 18h de quinta para prestar depoimento.

    Paulistano, Jefferson Silva veio de Capão Redondo, São Paulo, para passar o Carnaval no Rio. Ele está hospedado na casa do primo Adriano Bezerra da Silva, que dirigia o carro.

    Adriano Silva acabou preso por desobediência e tentativa de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. De acordo com o Exército, o jovem tentou atropelar um dos militares no momento da abordagem.

    Os jovens saíram juntos na noite de quarta para assistirem ao jogo Flamengo e Cabofriense, e voltaram por volta das 3h após a vitória rubro-negra. Luciano Borges, 26, disse que o irmão Vitor Borges foi levado em estado grave para o hospital, e por isso não contou o que aconteceu, mas amigos afirmaram que militares não deram sinal para o carro parar.

    "Não houve tiroteio nenhum. Eles alvejaram o carro que eles estavam. Isso mostra o despreparo do Exército, que não tem respeito nenhum. Agora, o meu filho está aí entre a vida e a morte", lamentou emocionada a mãe de Vítor Borges, a costureira Irone Maria Santiago, 50.

    Médicos disseram à família de Borges que um dos tiros perfurou o pulmão dele e atingiu a medula. O outro atravessou o fêmur ao atingir as duas pernas.

    "Eles fuzilaram o carro. Cada hora o Exército fala uma coisa diferente", lamentou o auxiliar de expedição, pai do jovem, Luciano Borges da Silva, 52.

    OUTRO LADO

    Em nota, o Exército informou que houve troca de tiros entre criminosos e tropas durante ronda de rotina, na madrugada de quinta. "Durante o incidente, um veículo em alta velocidade entrou na área conflagrada e recebeu orientação de parar", disse.

    Segundo militares, o carro não parou e foram efetuados disparos de arma não letal, ou seja, com bala de borracha, na tentativa que o suspeito interrompesse a atitude suspeita. "Visando cessar a atitude suspeita que ameaçava a integridade física de dois militares da tropa que estavam na trajetória do veículo, foram realizados quatro disparos de armamento letal [tiros de fuzil]".

    "Após os disparos, o veículo parou e a tropa imediatamente prestou socorros aos passageiros e encaminhou os feridos à UPA da Vila do João", afirmou. O carro dos jovens, no entanto, foi retirado do local do crime pelos militares — que alegaram "falta de segurança" para realização de perícia. O caso foi encaminhado para a Justiça Militar.

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