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    Com atrito diplomático, Dilma nega credenciais a embaixador da Indonésia

    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    20/02/2015 10h53

    A presidente Dilma Rousseff decidiu não receber as credenciais do embaixador da Indonésia no Brasil, Toto Riyanto, devido às relações estremecidas entre os dois países após a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, fuzilado em janeiro, e a manutenção da pena de morte para outro brasileiro, Rodrigo Gularte.

    A presidente explicou que primeiro é necessário que haja uma evolução nas conversas entre as duas nações. "Achamos importante que haja uma evolução na situação para que a gente tenha clareza em que condições estão as relações da Indonésia com o Brasil. O que fizemos foi atrasar um pouco o recebimento de credenciais", explicou Dilma após uma cerimônia no Palácio do Planalto em que cinco embaixadores entregaram suas credenciais à presidente.

    Assim que chegam ao país, os embaixadores precisam apresentar suas credenciais à chefe do Executivo para se tornarem oficialmente os representantes de suas nações no Brasil e poderem firmar acordos em nome de seus países.

    Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, os diplomatas, logo quando chegam ao Brasil, apresentam no ministério um documento chamado cópia figurada da sua credencial para poderem atuar no país. Com isso, eles podem exercer parte de seu trabalho. A única recomendação que a pasta faz é para que os diplomatas não façam visitas oficiais aos Estados brasileiros.

    A apresentação da credencial ao presidente é uma formalidade para oficializar a representação do embaixador. Desde 2011, Dilma participou de oito cerimônias, com a apresentação de 129 credenciais de embaixadores estrangeiros. A última vez em que a presidente recebeu as credenciais foi em novembro de 2014.

    Riyanto chegou a comparecer ao Palácio do Planalto mas foi informado antes do início da cerimônia pelo ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) que Dilma havia decidido aguardar por mais negociações com a Indonésia. Assim que foi informado, ele se retirou.

    O gesto do governo brasileiro foi interpretado como muito forte e que sinaliza a importância que o governo brasileiro dá ao caso.

    GULARTE

    Condenado à pena de morte por tráfico de drogas, Gularte teve sua execução adiada na última quarta-feira (18). Inicialmente o governo local havia marcado o fuzilamento para ocorrer ainda em fevereiro mas com a mudança a nova data específica não foi informada.

    Quando Marco Archer foi fuzilado, o governo brasileiro anunciou sanções ao país asiático na área comercial. Na época, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirmou que o fato criava uma sombra na relação entre os dois países.

    Reprodução
    Rodrigo Gularte, que está na lista de execuções de fevereiro
    Rodrigo Gularte, que está na lista de execuções da Indonésia

    CREDENCIAIS

    Entregaram suas credenciais os embaixadores do Panamá, Edwin Emilio Vergara Cárdenas, da Venezuela, Maria Lourdes Urbaneja Durant, de El Salvador, Diana Marcela Vanegas Hernández, do Senegal, Amadou Habibou Ndiaye, e da Grécia, Nikolaos Tsamados.

    Questionada se a presença da embaixadora da Venezuela no Planalto um dia após o presidente Nicolás Maduro ter decretado a prisão do prefeito da área metropolitana de Caracas, Antonio Ledezma, 59, causava constrangimento, Dilma afirmou que não.

    "Eu não posso receber um embaixador baseado em questões internas do país. Eu recebo os embaixadores baseado nas relações que eles estabelecem com o Brasil. Então, o foco nosso é fundamentalmente as relações e é isso que explica termos postergado o recebimento das credenciais da Indonésia", afirmou Dilma.

    Pouco após a prisão, Maduro disse na TV que Ledezma, um de seus mais ferozes críticos, tenta há anos promover um golpe de Estado. O caso ameaça agravar as tensões políticas num país dominado por crise econômica e insatisfação social.

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