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    Rio vai pleitear que Cais do Valongo seja patrimônio da humanidade

    LUIZ FERNANDO VIANNA
    COLUNISTA DA FOLHA

    22/02/2015 02h30

    Em 2012, o Rio de Janeiro teve sua paisagem classificada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Em 2015, quando completa 450 anos, a cidade trabalha para que outro cenário conquiste o título, mas não pela beleza.

    O Cais do Valongo representa o Brasil, o lugar em que mais desembarcaram africanos escravizados no mundo entre os séculos 16 e 19: cerca de 5,5 milhões, ou 40% do total. Ao Rio chegaram quase 3 milhões. E à região do Valongo, perto de 1 milhão.

    "Estamos falando do maior porto escravagista da história", ressalta o antropólogo Milton Guran, coordenador do grupo que prepara o dossiê da candidatura.

    O plano inicial previa a apresentação agora, colada nos 450 anos, que se completam em 1º de março.

    Mas o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) optou por setembro, ganhando tempo para receber uma avaliação preliminar do Icomos (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), associação que auxilia a Unesco. O resultado sairá em fevereiro de 2016.

    "Temos que mostrar o que significa aquela região, em que os africanos passaram a viver e onde nasceu o samba carioca", diz a presidente do Iphan, Jurema Machado.

    Em 1774, o vice-rei, Marquês de Lavradio, determinou que os escravos deixassem de "entrar na cidade através das principais vias públicas, não apenas carregados de inúmeras doenças, mas nus". Eles passaram a ser levados dos navios negreiros para o Valongo de bote.

    A região faz parte, hoje, do centro do Rio, mas era então considerada um subúrbio.

    Em 1811, com a corte de d. João 6º instalada na cidade havia três anos, construiu-se um cais na área. Em 1831, o tráfico foi proibido pelo Império. Desembarques clandestinos continuaram a acontecer, mas em outros lugares.

    A chegada de Teresa Cristina de Bourbon para se casar com d. Pedro 2º foi a senha para que se aterrasse o Cais do Valongo, ícone escravista que não deveria ser exibido numa terra que se desejava civilizada. Sobre ele surgiu o Cais da Imperatriz, onde a princesa napolitana desembarcou em 1843.

    Mauro Pimentel/Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, 20.02.2015: CAIS DO VALONGO - Imagens do Cais do Valongo e da Imperatriz, no centro do Rio de Janeiro. Este foi o primeiro local que recebeu navios negreiros no país. (Foto: Mauro Pimentel/Folhapress, FSP-FOLHA) ***EXCLUSIVO FOLHA***
    Cais do Valongo, no Rio, porto onde perto de 1 milhão de africanos escravizados desembarcaram

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