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    Volume de cartas enviadas em 2014 é o menor em 15 anos

    JOÃO CARLOS MAGALHÃES
    DE BRASÍLIA

    22/02/2015 02h30

    Com pessoas e empresas recorrendo crescentemente a meios digitais, o número de cartas enviadas em 2014 chegou ao menor nível dos últimos 15 anos.

    Dados levantados pelos Correios a pedido da Folha mostram que 2,4 bilhões de cartas foram mandadas no ano passado. O número é cerca de 60% menor do que os 6,1 bilhões enviados em 2001, maior volume desde o ano 2000 –quando as correspondências passaram a ser organizadas de maneira comparável com a de hoje.

    De acordo com o critério estabelecido pelos Correios, entram na categoria "cartas" itens enviados por pessoas físicas (como mensagens manuscritas) e jurídicas (cartões, multas, notificações), mas não telegramas, marketing direto ou o chamado FAC (Franqueamento Autorizado de Cartas), usado para o envio de grandes volumes de correspondências comerciais. Também ficam de fora as encomendas.

    A queda no número de cartas foi mais intensa entre 2002 e 2003 –em torno de 23%. A partir de 2010, o número passou a orbitar os 2,5 bilhões. Ele nunca havia contudo atingido o nível de 2014.

    A diminuição ocorre mesmo com o crescimento da quantidade de pessoas e de empresas. Desde 2000, houve um aumento de 17% da população, chegando em estimados 202,7 milhões no ano passado. Já a quantidade de empresas subiu em torno de 20% entre 2006 e 2012, quando havia 5,1 milhões delas. As informações são do IBGE.

    "O Brasil está acompanhando uma tendência mundial", diz a vice-presidente de negócios dos Correios, Morgana Cristina Santos. "O tráfego de correspondência tem caído cerca 4% ao ano no mundo todo", afirma.

    DIGITALIZAÇÃO

    Ainda que não exista um estudo pormenorizado das informações –não há, por exemplo, números só de cartas de pessoas físicas nem divididos por regiões do país–, a estatal dá como certo que a tendência é ligada à crescente digitalização das relações comerciais e afetivas.

    Duas estatísticas, também do IBGE, ajudam a dimensionar o aumento.

    Em 2003, 11,4% dos domicílios brasileiros tinham um computador conectado à rede. Em 2013, essa proporção havia quase quadruplicado, e chegou a 42,4%.

    Outra questão importante é a posse de telefones celulares –que também são capazes de mandar mensagens. Em 2005, 36% dos brasileiros tinham um aparelho para uso pessoal. Em 2013, esse percentual chegou a 75%.

    Morgana diz que, mesmo sem ter um maior detalhamento, é possível afirmar que o número de correspondências pessoais está caindo de maneira mais acelerada. "Mais de 90% das cartas hoje são de pessoas jurídicas."

    RESISTÊNCIA

    Nicolas Andrade/Divulgação
    Patricia Mello, da ong Amor em Cartas. (Foto: Nicolas Andrade/Divulgacao) ORG XMIT: GPS: S 22 53.0 W 47 2.0 0 m 0 feet ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Patricia Mello, da ong Amor em Cartas

    Alguns tentam, a seu modo, resistir. A publicitária Patrícia Mello, 31, fundou há quase um ano em Campinas (SP) uma ONG, Amor em Cartas, que funciona assim: uma pessoa pede à organização que mande uma carta para uma terceira pessoa –a qual, na maior parte das vezes, passa por alguma crise pessoal.

    A ONG então aciona um voluntário (80% são mulheres), que redige a mensagem, enviada ao destinatário por correio. Nenhum dos elos sabe o nome do outro.

    Patrícia percebeu o poder curativo da escrita quando perdeu a mãe e passou a escrever cartas para si mesma. "Foi a maneira que eu achei de superar a morte dela."

    Mais de 1.600 cartas foram escritas por mil voluntários.

    "São coisa tão simples e genéricas que as pessoas não sabem mais fazer. Hoje em dia é um e-mail, abreviado, com três palavrinhas e só", diz Patrícia.

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