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    Com bailes funk, periferia tem noites de Vila Madalena

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    22/02/2015 02h40

    Há anos, dezenas de bairros da periferia de São Paulo vivem um Carnaval por semana. Como na Vila Madalena, região que virou point da folia, moradores ficam de cabelo em pé porque são obrigados a mudar a rotina.

    Nos extremos, moradores insatisfeitos apontam como vilões os "fluxos", os conhecidos bailes funk de rua.

    Segundo a prefeitura, estão no mapa dos fluxos bairros como São Miguel, Penha (zona leste), Parelheiros (zona sul) e Pirituba (zona norte), entre outros.

    Os eventos, organizados pelas redes sociais, reúnem milhares de jovens, fecham ruas e chegam a acabar em confusão com policiais.

    A Polícia Militar diz que recebe, por fim de semana, cerca de 400 ligações "por perturbação ligadas a bailes funk na capital paulista".

    Assim como na Vila, o anseio por diversão dos festeiros não é facilmente digerido por quem deseja só sossego. A mediação sobra para a PM, que muitas vezes acaba com a festa na base das bombas.
    A maioria dos bailes só começa depois da meia-noite, quando parte dos moradores se prepara para dormir.

    "Se você consegue chegar cedo [até meia-noite], até entra com o carro na garagem. Mas não consegue sair", conta Pedro de Souza, 53, comerciante e morador de Parada de Taipas (zona norte).
    No bairro, acontece o "Pistão de Taipas", criado por jovens da Cohab.

    Segundo os organizadores, o evento já reuniu mais de 5.000 pessoas –eles dizem que faltam espaços de lazer na região e, por isso, os "fluxos" são na rua.

    "A rua fecha inteira, um carro briga com outro para saber quem tem o som mais alto", conta Souza.

    Em dia de "fluxo", Pedro não consegue dormir no seu apartamento e vai para a casa da sogra, em Osasco (Grande São Paulo). "Os garotos têm direito à diversão, e nós temos ao sossego."

    FAZ TREMER

    Todo sábado, Renato Ribeiro, 43, vê tremer janelas e portas de seu sobrado em Cangaíba (zona leste). "Minha casa parece que quer sair voando de tanto que treme. Um som terrível", diz.

    Por medo de represálias, ele e outros moradores de Cangaíba pediram para que seus nomes fossem trocados nesta reportagem.

    A festa começa assim: jovens param dois carros bem na frente da casa de Renato. À 1h, ligam o som. Aí começa o "Funk da Caixa" –nome em referência à grande caixa-d'água da Sabesp no bairro.

    Depois, a multidão vai chegando, outros carros estacionam e o batidão ganha volume –de público e de som. "Não reclamo para não dar confusão. Também não ligo para a PM, porque tenho medo que eles revelem meu nome ", diz Renato.

    Em novembro, um baile terminou com ônibus depredados. A PM dispersou os jovens com bombas.

    "As pessoas estão se cansando, tentando se mudar, vender ou alugar a casa", conta Manoel Almeida, 55, que já pensa em se desfazer de seu sobrado no bairro.

    CONTRAMÃO

    O êxodo de insatisfeitos com o Carnaval e com o barulho das festas também atinge a Vila Madalena, segundo corretores de imóveis ouvidos pela reportagem.

    "Temos sentido que os moradores mais velhos, que moram na Vila há décadas, querem realmente sair", diz Vitória Pacheco Haidar, 39, corretora de imóveis.

    "Eles não se acostumaram com a mudança de um lugar mais residencial para um bairro de comércio e vida noturna forte."

    Na contramão, a Vila é desejada por jovens de outros Estados ou estrangeiros que queiram morar na capital.

    O preço também não caiu. O aluguel de um apartamento de um quarto e 55 metros quadrados não sai por menos de R$ 2.500 por mês.

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