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    Condenado nos EUA por ameaças de bomba, brasileiro se diz arrependido

    ESTEVÃO BERTONI
    DE SÃO PAULO

    27/02/2015 02h00

    Desafiado por amigos, o estudante de publicidade Francisco Fernando Cruz, 23, que fazia intercâmbio nos EUA, enviou em 8 de janeiro de 2014 falsas ameaças de bomba por e-mail para a polícia dos EUA e para a TAM.

    No dia seguinte, foi preso em Miami no mesmo voo da ameaça. Sentenciado a um ano e um dia de prisão, voltou a Sorocaba (SP) no dia 19 com uma lição: "Tenho que levar as coisas mais a sério".

    Reprodução/Facebook
    Francisco Fernando Cruz, 23, que ficou preso nos EUA
    Francisco Fernando Cruz, 23, que ficou preso nos EUA

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    Depoimento...

    Em junho de 2012, fui para a Universidade do Estado de Nova York. Fiquei por três semestres e trabalhei como "au pair" [babá]. Em janeiro de 2014, já tinha acabado tudo o que tinha para fazer por lá.

    Na época, fazia parte de um grupo na internet. Propúnhamos desafios entre nós.

    A princípio, não enviaria os e-mails [com falsa ameaça de bomba], mas acabei mandando para cumprir um desafio.

    Visitava uma amiga em Montclair [Nova Jersey], e de lá enviei as mensagens, em 8 de janeiro de 2014, de uma universidade. No dia 9, eu sairia de Nova York, meu voo faria conexão em Miami, e eu viria para o Brasil no dia 10.

    Assim que o avião pousou em Miami, a polícia entrou e pediu para eu acompanhá-la. Sabia o que era, porque não havia nenhum outro motivo.

    "Você não precisa de um advogado porque a gente já sabe a verdade e tudo vai ficar bem com você. A gente só precisa da sua confissão." Eu então falei tudo para eles.

    Depois, vi um policial preenchendo um formulário. Falei: "Nossa, eu estou sendo preso?" Disseram que sim.

    Até entendo o motivo, mas se a ideia é que a pessoa aprenda a não fazer coisas erradas, acho que foi um pouco exagerado. No primeiro dia eu já sabia que não deveria nunca mais fazer aquilo.

    Na prisão, você é um nada. Fui para D. Ray James [presídio em Folkston, na Geórgia], onde fiquei primeiro numa cela com 60 pessoas, depois com um narcotraficante colombiano, até sair de lá.

    Conversava bastante com dois brasileiros, presos por fraude em cartões de crédito.

    Trabalhei como conselheiro para viciados. Era interessante. Nunca tive experiência com drogas e aprendi muito sobre o lado negativo delas.

    Quase toda semana tinha briga entre gangues. Eram 2.500 pessoas juntas. Pouco após eu sair de lá, todo mundo ficou fechado por quase um mês, pois um jamaicano matou um mexicano. Quando via brigas, eu me afastava.

    Eu lia muito. Tinham uma biblioteca com 800 livros. Recebi da minha família o "Fall Of Giants" [Queda de Gigantes], do Ken Follett, e toda a saga das "Crônicas de Gelo e Fogo", de "A Guerra dos Tronos" [de George R. R. Martin].

    Saí da prisão no dia 21 de novembro por bom comportamento e fui para a imigração, pois seria deportado. Por três meses, fiquei lá esperando, não podia sair. Agora, só posso voltar aos EUA depois de dez anos.

    Aprendi várias lições. Todos merecem uma segunda chance. Conheci muitas pessoas que não pareciam ser a pior pessoa do mundo para estar onde estavam. E tenho que levar as coisas mais a sério. Sempre fui brincalhão e vou tentar mudar um pouco.

    Estou pensando se volto para a faculdade ou se me mudo para o Sul. Quero trabalhar com publicidade.

    O pior, por enquanto, são os comentários. Muitas pessoas estão falando que o que fiz foi muito estúpido, o que foi mesmo, mas estão sendo bem mal-educadas. Alguns amigos também não falam mais comigo, mas não creio que possa existir no futuro nada muito pior do que isso.

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