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    Rio de Janeiro

    'Rainhas' do Rio de Janeiro refletem contrastes da cidade em 50 anos

    DIANA BRITO
    DE DO RIO

    28/02/2015 02h00

    Do alto de uma cobertura que já pertenceu ao ex-jogador Romário, com vista para a praia da Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), Rafaella Lemos, 22, contempla o horizonte e lembra de casa.

    "Ela mora aqui no topo, com essa vista linda do mar, e eu também, lá no topo da Rocinha", diz a modelo, igualando-se à anfitriã, a designer de interiores Solange Medina, 66.

    Rafaella é sucessora de Solange no papel de "rainha" do Rio, cargo simbólico criado pelos governantes da cidade em 1965, para as celebrações do quarto centenário, e renovado agora para os festejos de 450 anos.

    À rainha cabe participar dos eventos festivos oficiais. Ela é o rosto do Rio nas celebrações, e a comparação entre os perfis de Rafaella e de Solange reflete uma mudança na forma como o Rio se vê.

    Nascida e criada na favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio, Rafaella se emociona ao falar de sua vitória. Ela sabe da importância de, após 50 anos, ela e outras modelos de comunidades carentes terem disputado o concurso de beleza.

    "Com a diferença de classes, há oportunidades maiores e menores. Minha oportunidade sempre foi menor, mas corri atrás e hoje eu sou a rainha do Rio", disse, chorando, durante conversa com a Folha na cobertura de Solange, na última quinta (26).

    Orgulhosa, a rainha do quarto centenário enche a sucessora de elogios e diz que "a autenticidade e espontaneidade dela vencem todos os padrões". No início do ano, ela foi uma das juradas do concurso que elegeu a jovem.

    Segundo Solange, a regra do concurso atual foi idêntica a da que a elegeu em 1965, e o critério de escolha da musa também é, inevitavelmente, uma decisão política.

    Na ocasião dos 400 anos, o Rio (então Guanabara, uma cidade-Estado) era governado por Carlos Lacerda, responsável pela remoção de favelas das zonas norte e sul, transferindo os pobres para conjuntos habitacionais distantes, como a Vila Kennedy e a Cidade de Deus.

    "Na minha época não tinha ninguém de comunidade. Parece que faltava coragem. Nesse ano tivemos várias."

    Eleita musa dos 450 anos, Rafaella assinou um termo de compromisso anual com a Secretaria Estadual de Turismo –o cargo não é remunerado, mas ela ganhou do governo um carro popular (de cerca de R$ 25 mil) como prêmio.

    Modelo há oito anos, a jovem fez sua primeira viagem internacional em 2014, para a África do Sul, onde trabalhou por um semestre.

    "Tive que deixar os estudos para me dedicar à carreira, mas quero voltar em breve para terminar o colégio, fazer pré-vestibular e seguir os passos da Solange como designer de interiores", disse.

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