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    Cenário pós-Jogos no Rio e ajuste fiscal preocupam especialistas

    ITALO NOGUEIRA
    DO RIO

    01/03/2015 02h00

    O 450º aniversário do Rio é marcado pela expectativa pelo ano seguinte. Os Jogos de 2016 são vistos como uma oportunidade de elevar a cidade a polo internacional da América Latina. Teme-se, porém, por uma falta de planejamento pós-2016.

    Para o economista Fábio Giambiagi, organizador do livro "Depois dos Jogos", a Olimpíada "reposiciona o Rio como marca global".

    "O Rio é uma marca global da série B, no sentido de que o morador do interior da China sabe que o Rio existe, mas sem o glamour de outras marcas como Nova York. Se sairmos bem na foto na Olimpíada, poderemos receber mais turistas de maior poder aquisitivo e que fiquem mais dias."

    Daniel Marenco/Folhapress
    Obras do parque olimpico da Barra. Local sera o principal palco para disuta de varias modalidades nas olimpiadas do Rio2016.
    Obras do parque olímpico da Barra, que será o principal palco várias modalidades na Rio2016.

    O economista Sérgio Ferreira diz que os Jogos podem manter os investimentos na cidade em um cenário de corte de gastos no país, mas afirma que a carteira de projetos, de quase R$ 40 bilhões, não será suficiente caso a crise econômica se prolongue.

    "Há um investimento de construção civil maior, o que dá pequeno alento. Mas é pouco para impedir a bomba que vem nos próximos três a quatro anos", diz Ferreira.

    Os principais investimentos na cidade são voltados ao transporte público. Recentemente foram concluídos dois corredores exclusivos de ônibus (conhecidos pela sigla inglesa BRT, "bus rapid transit"), outros dois estão em construção, e a extensão do metrô à Barra está sendo feita. Mas há preocupação com o pós-Olimpíada.

    "A história dessa cidade sempre foi a lógica do automóvel. O BRT cumpre um papel mínimo, mas, em breve, estará lotado", diz o arquiteto Augusto Ivan.

    O economista Sérgio Besserman afirma que os corredores de ônibus ajudam a fixar a população nas áreas já habitadas. Ele diz que as obras reduzem a pressão por maior expansão territorial e a favelização perto de centros de trabalho.

    Três corredores de ônibus e a extensão do metrô atendem principalmente à zona oeste da cidade, área para onde a ocupação urbana cresceu nos últimos 50 anos, mas sem transporte de massa.

    Urbanistas temem que eles induzam o crescimento da cidade para a região. A Transoeste, via que liga Santa Cruz (zona oeste) à Barra, atravessa toda Guaratiba, área ambientalmente frágil que a prefeitura diz querer preservar. A obra exigiu a abertura do primeiro túnel do maciço da Pedra Branca -o da Tijuca tem 13.

    Daniel Marenco/Folhapress
    Obras do parque olimpico da Barra. Local sera o principal palco para disuta de varias modalidades nas olimpiadas do Rio2016.
    Obras do parque olímpico da Barra.

    O prefeito Eduardo Paes diz que a obra era necessária para melhorar a mobilidade dos moradores de Santa Cruz e Campo Grande, bairros mais afastados da zona oeste, no limite da cidade.

    "O povo já está em Santa Cruz. Como você vai dizer para as pessoas? 'Você vai sofrer porque o conceito urbanístico do Lúcio Costa [que fez o Plano Piloto da Barra] e dos prefeitos que me antecederam foi equivocado.' Não dá."

    Ele diz que enviará à Câmara Municipal projeto de lei que regule a ocupação em Guaratiba e Vargens.

    "O ideal é consolidar com mais qualidade a expansão nessa região [da Olimpíada]e que a nova fronteira seja de fato o retorno ao centro e à zona norte", diz Paes.

    Para a urbanista Margareth Pereira, os investimentos na cidade são "descoordenados". Ela afirma que as grandes obras na Barra e na zona portuária (região central) concorrem entre si.

    "Não temos capital suficiente para construir e manter todas essas obras. Corremos o risco de ter só um pedaço da área do porto construída, e parte das áreas olímpicas prontas."

    Para Paes, essa concorrência só ocorrerá daqui a 15 anos, quando a revitalização do porto se consolidar. "Acho que ela vai existir e vai ser ruim para a Barra."

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