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    Coletânea mostra 150 histórias publicadas na seção 'Mortes'

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    04/03/2015 02h00

    Ninguém resiste à morte.

    A frase, além de explicitar o que há de inevitável e irreversível na condição humana, ajuda a explicar o sucesso de um certo tipo de texto jornalístico que flerta com a literatura e narra a trajetória de uma existência a partir de seu ponto final.

    Os obituários misturam biografia e memória, anedota e transcendência, alegria e tristeza. Foram consagrados pela imprensa de países de língua inglesa, onde são campeões de leitura, escritos por excelentes redatores.

    Na Folha, os obituários ganharam espaço fixo a partir de 2007. De lá para cá, foram 2.688 textos publicados na seção "Mortes", um para cada dia. Agora, 150 desses obituários surgem compilados no livro "Um Dia, uma Vida", lançado pelo selo editorial Três Estrelas, do Grupo Folha.

    Organizados pelo colunista Leão Serva, que já foi secretário de Redação do jornal, os textos apresentam ilustres desconhecidos e suas vidas extraordinárias, ou rememoram momentos marcantes da vida de famosos, iluminando traços, fatos e manias emoldurados pelo último capítulo daquela presença.

    "Esse equilíbrio entre histórias de vida de anônimos exemplares e de famosos é muito interessante, assim como o é o fato de a morte ser um mero detalhe nesse tipo de texto", explica Serva.

    Assim, a seleção feita por ele respeita a definição de Bill McDonald, editor de obituários do "The New York Times", dos melhores obituários: "São aqueles que tratam de pessoas das quais nunca tínhamos ouvido falar e que nos deixam chateados por não termos tido a chance de conhecê-las".

    Estão lá as trajetórias do primeiro patrão de Lula e do homem que tomava café com Drummond e almoçava com Guimarães Rosa. Do taxista que casou com a passageira e da cobradora de ônibus que reuniu 1.039 provérbios populares. Do jovem que sobreviveu à bomba atômica de Nagasaki porque perdeu uma balsa e do homem por trás da máscara de Fantomas, herói das lutas livres da TV.

    O jornalista Willian Vieira, 30, primeiro titular da seção de obituários da Folha, foi alvo do fascínio que esse tipo de narrativa exerce: resolveu estudar o gênero e concluiu mestrado sobre o tema.

    "Queria investigar e entender o que atrai tanto as pessoas nesse tipo de texto e por que ele é tão especial que merece migrar da efemeridade do jornal para a durabilidade de um livro", explica.

    Para ele, os obituários seduzem porque saciam a curiosidade sobre a vida dos outros ao mesmo tempo em que sublimam o medo que temos de morrer. "Ninguém resiste à morte, ainda mais quando ela não está sob o signo da tragédia, mas da vida."

    UM DIA, UMA VIDA
    ORGANIZAÇÃO: Leão Serva
    EDITORA: Três Estrelas
    QUANTO: R$ 34,90 (216 págs.)

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