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    Procuradoria recomenda tombar cais Estelita e ameaça projeto no Recife

    PATRÍCIA BRITTO
    DE SÃO PAULO

    04/03/2015 12h00

    O Ministério Público Federal recomendou ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o tombamento do pátio ferroviário das Cinco Pontas, no cais José Estelita, região central do Recife.

    Na prática, o pedido poderá inviabilizar os planos do consórcio Novo Recife, que pretende erguer no local um complexo imobiliário com 13 prédios de 12 a 38 andares.

    O cais José Estelita ficou conhecido nacionalmente em maio de 2014, quando manifestantes invadiram o terreno para impedir a demolição de antigos galpões abandonados, dando início ao #OcupeEstelita, movimento que ganhou a adesão até de famosos de fora do Recife. Desde então, as obras estão embargadas.

    Bobby Fabisak/JC Imagem - jun.2014/Folhapress
    PM lança gás de pimenta contra manifestantes durante reintegração de posse no cais José Estelita
    PM lança gás de pimenta contra manifestantes durante reintegração de posse no cais José Estelita

    O movimento se assemelha ao de ativistas em São Paulo que querem impedir a construção de um empreendimento imobiliário para criar o parque Augusta, no centro da cidade. Nos dois casos, ativistas são contra a construção de espigões e defendem que área adquirida por empreiteiras seja destinada ao uso público.

    No caso do Recife, os manifestantes se opõem ao projeto, pois afirmam que o novo empreendimento irá descaracterizar a paisagem do centro histórico da cidade.

    No cais José Estelita funcionou a Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco, inaugurada em 1858, e ainda há antigos armazéns de açúcar.

    O terreno pertencia à extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A). Em 2008, o consórcio formado por quatro empreiteiras, entre elas Queiroz Galvão e Moura Dubeux, adquiriu em leilão, por R$ 55 milhões, parte da área dos antigos armazéns, num total de 102 mil metros quadrados.

    O consórcio prevê investimento de R$ 1,5 bilhão para o complexo, com dez prédios residenciais, um empresarial, um misto e um hotel.

    Na recomendação, o Ministério Público argumenta que a área tem valores histórico, arquitetônico, arqueológico e paisagístico. Diz ainda que há "concreto e mais que iminente risco de perda, comprometimento irreversível e descaracterização" devido ao projeto imobiliário previsto.

    Para a procuradora da República Mona Lisa Ismail, uma das autoras da recomendação, a área "foi essencial para a constituição física da imagem da cidade do Recife e dos bairros vizinhos".

    O Iphan recebeu prazo de dez dias úteis, desde a notificação, para responder se abrirá processo para avaliar a importância histórica, cultural e arquitetônica do local, visando o tombamento.

    Questionado, o instituto não respondeu em qual data foi notificado (quando começa a contar o prazo). A recomendação do Ministério Público foi expedida em 12 de fevereiro.

    Se o tombamento for aprovado, o consórcio não poderá realizar obras que alterem as características originais dos bens. As restrições valem mesmo para o tombamento provisório, a fase prévia de estudos.

    Procurado, o consórcio Novo Recife afirmou que não iria se pronunciar sobre a recomendação de tombamento, pois não foi notificado.

    OCUPE ESTELITA

    Em maio de 2014, o consórcio Novo Recife deu início à demolição de armazéns de açúcar no cais José Estelita, o que levou ativistas a invadirem o terreno em protesto.

    Os manifestantes armaram barracas no local e promoveram atividades para chamar atenção para a causa.

    Em junho, os ativistas foram retirados pela Polícia Militar em uma reintegração de posse com uso de balas de borracha e bombas de efeito moral. Quatro pessoas foram detidas e três ficaram feridas.

    A prefeitura entrou na negociação e elabora um projeto de lei para regulamentar o plano urbanístico da área.

    Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, Antônio Alexandre, o consórcio deverá reapresentar o projeto de acordo com as novas diretrizes urbanísticas.

    O consórcio Novo Recife afirma que fez mudanças no projeto original para destinar 65% da área do terreno para uso público. Diz ainda que investirá R$ 62 milhões em ações mitigadoras, como recuperação de estruturas abandonadas.

    Para a procuradora Mona Lisa Ismail, contudo, a reformulação do projeto não solucionou problema. Por isso ela considerou necessário o tombamento.

    "Permanece a mesma sensação de barreira [visual] e de prejuízo à visibilidade do pátio. É uma construção totalmente desconectada com o casario que ainda", afirmou a procurada.

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