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    Detentos constroem favela com bar e igreja dentro de presídio em Roraima

    JULIANA COISSI
    DE SÃO PAULO

    07/03/2015 02h00

    Entre barracos de madeira, roupas estendidas no varal e latidos de cachorros, policiais se posicionam perto de um campinho de futebol, como se estivessem prontos para agir. Do outro lado, moradores das casas improvisadas os observam.

    O muro alto, ao fundo das imagens, revela que a "cidade" foi erguida dentro de uma prisão em Roraima.

    Veja vídeo

    O vídeo, feito na última segunda-feira (2) pelo Ministério Público Estadual durante vistoria, mostra o Estado paralelo criado na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista.

    "[O espaço] Simplesmente não serve para presídio de regime fechado. Precisa desmanchar e fazer outro", diz o promotor de execução penal Carlos Paixão de Oliveira.

    Com 750 vagas, a unidade abriga atualmente 1.050 homens, entre presos provisórios e condenados.

    Parte dos internos vive no que se entende por prisão: pavilhão fechado, disposto em celas, ainda que de higiene e manutenção precárias.

    Na área ao ar livre, porém, acusados por crimes sexuais, ex-policiais detidos e até presos provisórios construíram barracos com pedaços de madeira, placas de aço, cobertores e telhas.

    O processo de "favelização" é antigo, de pelo menos sete anos, mas se intensificou nos últimos quatro anos, segundo o presidente estadual da OAB, Jorge Fraxe.

    A cidade surgiu porque alas de alvenaria foram paulatinamente destruídas em rebeliões ou desativadas pela direção do presídio, já que, sem manutenção, não eram seguras para manter presos.

    A favela encorpou e ganhou novas moradias desde outubro, quando alas foram destruídas em um motim. Restam hoje destroços do que foram paredes de celas.

    A situação leva o governo Suely Campos (PP) a chamar os detidos na área externa de "presos favelados". A gestão, que assumiu em janeiro, culpa os governos anteriores pelo problema.

    BAR E IGREJA

    Na favela, há barracos equipados com geladeira dúplex e TVs. Um deles é um bar, com um balcão com display de vidro, daqueles de armazenar salgados.

    A placa vista num barraco, "Casa de Oração", anuncia um templo evangélico, com pilhas de cadeiras. Os barracos estão cercados de pés de bananeiras, varais de roupas e tambores de estocar água.

    Reprodução
    Barracos e templo evangélico improvisado dentro da Penitenciária de Monte Cristo, em Roraima
    Barracos e templo evangélico improvisado dentro da Penitenciária de Monte Cristo, em Roraima

    Cachorros que circulam pelo local. A assessoria do Ministério Público contou 15 deles.

    A palavra "agrícola" no nome do presídio vem de sua construção, há quase 30 anos. No início, havia uma horta, criação de porcos e frangos, olaria e marcenaria, tudo funcionando precariamente desde o início, segundo o promotor.

    O secretário Josué dos Santos Filho, responsável pela Sejuc, pasta que gere o presídio, disse que a favelinha deve ser totalmente eliminada até outubro, após reforma das alas.

    A reportagem tentou contato com o ex-governador de Roraima Chico Rodrigues (PSB), sem resposta.

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