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    Cadeirantes voam a 200 metros de altura em máquinas adaptadas; assista

    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    08/03/2015 02h00

    "Você voaria de novo?" Essa é a pergunta que mais escuto depois da maluquice de subir a cerca de 200 m de altitude em um "paratrike"-triciclo com estrutura bem simples, apoiado por um motor mais simples ainda e sustentado por uma vela-, tendo como piloto outro cadeirante como eu.

    De imediato, respondo que "nem a dólar" e brinco que tenho medo de cair e deixar de andar, ficar paraplégico.

    Porém, quando recordo as sensações inéditas que experimentei e a lembrança para a vida toda que construí, acho que repetiria a aventura, sim, mas com menos vento -e sem rasantes, por favor.

    Fiz o teste, na carona, no último domingo (1°) na cidade de Salto (a 101 km de SP).

    "Tá conseguindo relaxar? Aproveita o visual, curte o vento", aconselha o meu piloto, o advogado Augusto Toledo, 49, que se acidentou com gravidade em 2003, justamente em um voo com vela. Lesionou a medula e se tornou cadeirante.

    Apu Gomes/Folhapress
    'Paratrike' com cadeirantes em Salto, no interior de SP
    'Paratrike' com cadeirantes em Salto, no interior de SP

    Durante cinco anos, ele se preparou novamente para voar, inclusive para fazer voos duplos, "com mais técnica e cursos de segurança".

    Hoje, faz passeios semanais com o "paratrike" e, com a ajuda de técnicos, desenvolveu um outro equipamento, uma "cadeira de rodas voadora" em que faz saltos solos a partir de rampas localizadas em montanhas.

    Diferentemente do "paratrike", a cadeira voadora inventada pelo advogado não conta com nenhum motor de impulsão e estabilização, apenas com a força do vento e com o manejo da vela.

    "Preciso apenas de um empurrão, na saída. Caio lá do alto e aí é um voo como outro qualquer", diz Augusto. "No pouso, ter as rodas [da cadeira] ajuda muito, uma vez que posso chegar em um acostamento de rodovia ou em cima de um ninho de cupins. A cadeira me dá mobilidade, permite sair do local, recolher a vela e esperar a equipe."

    Ele começou a usar o novo equipamento há menos de um ano e já decolou com a invenção em montanhas do Chile e do interior de Minas.

    Não, na cadeira voadora não é possível fazer voos com mais de uma pessoa e, mesmo que fosse, eu jamais gostaria de provar, nem com toda a proteção de nossa senhora da bicicletinha.

    Apu Gomes/Folhapress
    'Paratrike' com cadeirantes em Salto, no interior de SP
    'Paratrike' com cadeirantes em Salto, no interior de SP

    DO CÉU

    Talvez por eu ser fã de uma música da banda Karnak que diz: "Daqui do céu dá pra ver tudo/Os continentes desse mundo", solto no vento, lá no alto, os pequenos lagos, os carros na rodovia, os telhados e construções das cidades de Itu, Atibaia e Salto, de onde partimos, me pareciam uma imensidão.

    "É uma sensação incrível pra gente que vive sentado, não é? A dimensão do ar é a melhor que existe", diz Augusto, enquanto manobra a vela diante de uma corrente de vento que faz o "paratrike" balançar e o meu coração pular pela boca.

    É mesmo emocionante estar voando livremente na perspectiva de quem mal consegue atravessar uma rua da cidade porque não há rampas e as calçadas são destruídas.

    Por outro lado, é punk imaginar que nada muito concreto está te dando sustentação e que "capotar" no pouso ou ficar pendurado em uma árvore "é do jogo".

    Augusto desceu assim que minha cota de relaxamento zen acabou e pedi para aterrissar. Ele ainda fez uma graça descendo bem perto da cabeça dos cinegrafistas que registravam o fato.

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