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    Crise da água

    Condomínios remanejam vagas na garagem para instalar cisternas

    NICOLAS IORY
    DE SÃO PAULO

    16/03/2015 12h00

    Danilo Verpa - 24.fev.2015/Folhapress
    Obras em condomínio no Ipiranga para instalação de cisterna
    Obras em condomínio no Ipiranga para instalação de cisterna de 15 mil litros

    Mesmo sendo uma das principais causas de disputas entre moradores de prédios em São Paulo, alguns condôminos estão abrindo mão de suas vagas na garagem para a instalação de cisternas e caixas d'água suplementares. Essa tem sido a solução encontrada por síndicos e moradores que temem o agravamento da crise hídrica no Estado e a implementação de um rodizio de água na capital paulista.

    A estratégia foi adotada no condomínio Piazza de Sorrento, por exemplo, que possui 88 apartamentos, no bairro do Ipiranga, na zona sul. Desde o início do mês, quando a instalação foi iniciada, os ocupantes de sete vagas passaram a estacionar o carro em outros espaços.

    De acordo com o síndico do conjunto, José Mauro, o local fica sem água diariamente por um período de até 17 horas. Apesar da restrição, as caixas d'água já instaladas no condomínio têm conseguido evitar que as torneiras dos moradores fiquem secas. A compra da cisterna, de 15 mil litros, visa captar a água da chuva por meio de tubulações ligadas às calhas dos dois prédios do condomínio para reutilizá-la em serviços de limpeza, diminuindo o uso de água potável em até 25%.

    Convencer os moradores a cederem seus postos no estacionamento do prédio foi uma tarefa mais fácil do que o esperado, segundo Mauro. "Teve uma ou outra reclamação, mas a maior parte dos condôminos aderiu à proposta, até pela necessidade de economizar. As vagas voltarão aos proprietários depois que ficar tudo pronto", conta o síndico. A obra custou cerca de R$ 50 mil e deve ser concluída em duas semanas.

    Segundo o diretor de condomínio da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), Omar Anauate, é necessário que a votação seja unânime para alterar a destinação de uma vaga na garagem. No caso do Piazza de Sorrento, a assembleia entre os moradores aprovou a medida com 17 votos a favor e três contra. "É mais fácil instalar uma caixa d'água ou cisterna em um pedaço do parque ou jardim do prédio. As pessoas abrem mão disso, mas não de suas vagas. Mesmo sendo uma área comum a todos os moradores, alguém tem direito àquela área."

    É justamente pelo medo de ter problemas com condôminos insatisfeitos que Edson Sauro, síndico de um prédio na Casa Verde, na zona norte, decidiu suspender o plano de remanejar as vagas para colocar uma cisterna de 24 mil litros. A compra do reservatório foi mantida, mas a instalação deverá ser feita no jardim do condomínio. "Sempre tem alguém que quer denunciar as decisões para a prefeitura, então falei para fazermos uma coisa definitiva, sem mudar o lugar de ninguém", diz Sauro, que espera finalizar a obra em dois meses.

    Uma das moradoras do prédio do Ipiranga que precisou parar o carro em outra vaga, a advogada Cristina Souguellis, 54, minimiza o fato de perder seu espaço por algumas semanas. "É muito pior ficar sem água do que passar por algum desconforto na hora de estacionar. Esse tipo de ação até nos inspira a procurar outras maneiras para economizar ainda mais."

    Se existe algo que a preocupa nessa história, é o medo de ter surpresas quando voltar a sua antiga vaga, que estará exatamente sobre o local em que a cisterna será aterrada. "Só espero nunca acordar durante a noite escutando um 'tchibum' na garagem", pontua.

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