• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 03:40:00 -03

    SP deve conhecer subterrâneo para evitar desperdício, diz analista do MIT

    RAUL JUSTE LORES
    ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

    22/03/2015 02h00

    Criador de um sistema de sensores que detecta vazamentos de água assim que começam, o engenheiro Andrew Whittle acha que São Paulo precisa "conhecer melhor seu subterrâneo" para combater o desperdício.

    Professor e ex-diretor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do MIT, o prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ele diz que "a Grande São Paulo desperdiça mais de um terço de sua água, suficiente para 7 milhões de pessoas".

    Divulgação/Visenti
    Andrew Whittle, professor do MIT que desenvolveu detector de vazamentos para redes de encanamento
    Andrew Whittle, professor do MIT que desenvolveu detector de vazamentos para redes de encanamento

    Whittle, cuja invenção é usada em Cingapura, Hong Kong e Melbourne (Austrália), também atua em projetos de controle de alagamentos em Nova Orleans e Veneza. Ele conta como descobriu a ligação entre pressão da água e fadiga dos canos, que causa vazamentos. Ele recebeu a reportagem da Folha em seu escritório no MIT.

    INFRAESTRUTURA OCULTA
    Precisamos mapear melhor o subterrâneo das cidades. Onde há canos, onde passam os fios, onde temos estacionamentos, transporte, infraestrutura. Helsinque, na Finlândia, fez um plano diretor para o subterrâneo. O governo chinês patrocina uma parceria entre o MIT e a Universidade Tsinghua, de Pequim, para armazenar calor no verão nos subterrâneos das casas e usar para a calefação no inverno.

    Em Londres e Boston vazamentos já afetaram os túneis do metrô e o fornecimento de gás no inverno. Como essa infraestrutura é "invisível", governos e políticos costumam dar pouca atenção a isso.

    ROUBO
    Há pouca observação hoje do que acontece nos canos, do comportamento da água. Isso é fundamental. O mesmo sistema que avisa vazamentos pode revelar quando alguém está roubando água, quando um prédio está acumulando. Sem falar no que um estudo mais detalhado nos diz sobre saúde pública.

    Em Cingapura nos demos conta de que parte dos vazamentos acontece pela fadiga do encanamento. Muito por conta da pressão excessiva da água. Se medimos a pressão, podemos controlá-la, o que reduz esse desgaste.

    DESPERDÍCIO DE 5%
    Quando o vazamento acontece, há uma janela de tempo entre a água vazar até jorrar pelo asfalto, depende da profundidade onde os canos estão instalados. Você pode mandar pessoas na hora para checar, bloquear o cano e economizar a água. Cingapura desperdiça 5%, muito abaixo de São Paulo. A infraestrutura lá é relativamente nova e muito bem mantida. Eles querem reduzir para 1%. O custo da operação é barato, mas lá não há roubo de equipamentos instalados.

    Em cidades com infraestrutura antiga, como Londres, Chicago, Hong Kong, o desperdício fica entre 20% e 30%. Com ótima manutenção, como Nova York, o desperdício é de 10%. Em Jacarta, onde parece haver muito roubo de água, chega a 50%. São Paulo está no mesmo grupo de Bangalore, na Índia, e de Roma.

    LEITURA DE DADOS
    Um sistema que ainda precisa ser aperfeiçoado é o da leitura dos dados, que podem ser acumulados a partir das reclamações das empresas de água. Atualmente, em boa parte do mundo, são usados métodos acústicos, ouvindo ruídos para detectar vazamentos. É muito primitivo.

    A maneira como medimos o consumo e cobramos pela água está muito atrás da eletricidade. Não pagamos água como pagamos pela eletricidade. E o que não parece gerar altos retornos, não gera altos investimentos.

    ROMPER MUROS
    No MIT, cabe tudo. Do cientista que estuda "ciência pura" a gente como eu, de infraestrutura, que quer combater problemas do mundo real e busca clientes.

    Sou um homem que estuda solo e rocha. Para desenvolver os sensores de vazamento precisamos de ajuda de cientistas da computação e de engenheiros hidráulicos. Nem todas as universidades, nem todos os governos têm conversas entre diferentes departamentos, algo fundamental para a inovação. Temos que romper esses muros.

    PESQUISA PATROCINADA
    Começamos com projetos-piloto pequenos nos EUA, aí surgiu uma oportunidade boa em Cingapura. O governo de lá fez uma grande doação ao MIT, que previa que faculdades daqui fizessem pesquisas lá. Um dos temas era a falta de água, pois o país não tem muito território para armazenar e depende da vizinha Malásia. Então nos debruçamos em como descobrir vazamentos muito antes de eles chegarem à superfície e romperem o asfalto.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024