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    Roubos crescem mais na periferia do que nos bairros ricos de SP

    REYNALDO TUROLLO JR.
    FELIPE SOUZA
    APU GOMES
    DE SÃO PAULO

    23/03/2015 02h00

    A alta de roubos que atinge a cidade de São Paulo afeta mais os bairros pobres que os bairros ricos. Na periferia, moradores estão mudando a rotina para fugir dos assaltos.

    Mulheres já não vão mais sozinhas aos pontos de ônibus de manhã. Comércio aberto após as 19h conta com a "caixinha" do assaltante.

    Pertences roubados que não têm serventia para o ladrão estão sendo descartados em pontos de desova, já mapeados pelos moradores.

    Os DPs responsáveis pelas áreas dos dez distritos administrativos mais pobres da capital registraram juntos, em 2014, 18.972 roubos –aumento de 37% em relação a 2013.

    Já os DPs que cobrem as áreas dos dez distritos mais ricos da cidade tiveram 15.030 roubos, 19,1% a mais, na mesma comparação (2013-2014).

    Na capital como um todo, os roubos subiram 26,5% de um ano para o outro

    Em janeiro deste ano, os roubos na cidade caíram 1,7% em relação a janeiro de 2014 –após 19 meses seguidos de aumento. Os DPs das dez áreas mais ricas tiveram queda de 19,1%. Os das dez áreas mais pobres, alta de 6,5%.

    AUMENTO DO CONSUMO

    "Isso rompe o mito de que são os ricos que sofrem mais com a violência", diz Rafael Alcadipani, professor da FGV que pesquisa segurança.

    Ele e o analista criminal Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmam que esses crimes cresceram mais na periferia porque, hoje, os mais pobres têm mais acesso a bens de consumo –com o crescimento da renda na última década, 54% da população hoje faz parte da classe C– e há menos policiais nesses locais.

    "Hoje, o celular também está na mão do pobre. Então, o bandido tem na periferia um produto caro e com muita saída. E todo mundo sabe que na periferia tem menos polícia", afirma Mingardi.

    Alegando razões de segurança, a Secretaria da Segurança Pública não informa como é a distribuição dos policiais pelos bairros da cidade.

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

    O início da manhã, quando centenas de pessoas estão nos pontos de ônibus, virou horário crítico, segundo moradores. Os alvos são mulheres, cujas bolsas e celulares são levados por jovens que, normalmente, chegam em motos. Segundo os moradores, muitos bandidos moram por ali.

    "Eles pegam a bolsa, arrastam a pessoa, pintam o sete. Este Grajaú não era assim", diz uma doméstica de 60 anos, que acorda antes das 5h para pegar o ônibus em direção ao Paraíso, onde trabalha.

    No ponto de onde parte o ônibus, na rua São Caetano do Sul, as mulheres chegam a pé sempre em grupos. Muitas são levadas de carro pelos maridos –mesmo as que moram a três quadras dali.

    PONTOS DE DESOVA

    No Itaim Paulista (zona leste), a moradora Beatriz França, 19, teve a bolsa roubada a caminho do ponto de ônibus, por volta das 6h, por dois homens aparentemente armados. Após dicas de vizinhos, recuperou a bolsa e os documentos no córrego Tijuco Preto, a 500 m do local do crime.

    Até o cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista (zona leste), é usado para esse fim. "Sempre aparece uma carteira ou mochila nos telhados. Algumas ficam grudadas na cerca em cima do muro", conta o agente de apoio do cemitério Jorge de Aragão, 52.

    Na região, o córrego que segue a avenida Rio das Pedras é ladeado por bolsas, malas e cartões de banco. "CNH eu acho sempre, mas o que vou fazer com isso? Os dias que mais têm são nos fins de semana e depois de pagamento", diz um catador de lixo.

    Abertas à noite, farmácias na avenida Belmira Marin, no Grajaú, zona sul, "colecionam" assaltos. Uma foi roubada três vezes em fevereiro, em três domingos seguidos.

    Os ladrões eram um casal que levava leite, fraldas e o dinheiro do caixa. Ao assaltar outra farmácia na mesma avenida, pelo quarto domingo, o homem foi baleado pela PM.

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