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    Crise da água

    Desabastecimento deixa morador de rua sem copo de água e banho em SP

    LÍGIA MESQUITA
    DE SÃO PAULO

    25/03/2015 02h00

    Moradores de rua e usuários de drogas das regiões da cracolândia (centro de SP) e do viaduto Bresser, na Mooca (zona leste), reclamam que estão sem água para beber, tomar banho e usar o banheiro nos espaços de tendas do programa municipal De Braços Abertos, por causa da interrupção do abastecimento pela Sabesp.

    A população de rua também afirma que comerciantes passaram a não dar mais copo de água e proíbem que eles encham galões.

    Como os espaços de atendimento fecham às 21h e a partir das 17h as torneiras começam a secar, eles reclamam que dependem de doações de água mineral feitas por entidades religiosas para não passar sede à noite.

    O usuário Fabiano Cagnin, 37, diz que, se esquece de encher o galão, fica com a boca seca. "Peço água nos bares e ninguém dá", fala. "Também fiquei dois dias sem banho."

    Na tenda da rua Helvétia, das cinco torneiras que antes funcionavam no local, três foram retiradas. "Antes, só uma tava funcionando, a fila era enorme", diz uma usuária.

    O frei Agnus Hostian e a irmã Chiara de Jesus, da Casa de Oração do Povo da Rua, contam que quando levam cem garrafas de água ao local, acabam em três minutos.

    A Secretaria Municipal da Saúde diz que as torneiras foram retiradas para reparo e que "foi pactuado" com a Sabesp que "serviços de saúde" são "prioridade no abastecimento". A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social diz que recomendou a economia de água para todos os "equipamentos" da pasta, inclusive núcleos de acolhimento, mas não proíbe o uso da água nesses locais. E que não há registro de falta de água potável.

    COMÉRCIO SEM ÁGUA

    A Folha percorreu mais de dez restaurantes e bares no entorno da cracolândia.

    Todos os comerciantes negam que se recusam a dar água, mas dizem ter o abastecimento interrompido diariamente às 17h. O site da Sabesp confirma a redução de pressão nas ruas da região.

    "Não se nega água, seca é pior que fome", diz Cirlene Saad, do bar Katitos. "Agora, se eles vêm quando a torneira tá seca, o que vou fazer?"

    Funcionária da lanchonete Barão, Magnolia Porto diz que, para impedir o aumento na conta de água, não deixa mais pedintes encherem galões de cinco litros. Na tenda Bresser (Mooca), assistentes sociais e moradores dizem que a água acaba quase diariamente e que banheiros ficam em situação lamentável.

    Tamara Kiverkamp, 43, que vive debaixo do viaduto Bresser, relata que não consegue encher sua garrafa em bares em dia sem doação de água. "Pra você todo mundo vai dizer que não nega. Mas a realidade é outra", diz.

    A Folha visitou barracos do local nesta segunda (23). As pessoas que estavam ali de dia armazenavam água em galões e guardavam garrafas doadas na véspera.

    Diante dessa situação, o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, se reuniu com o secretário de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, e Milton Persoli, da Defesa Civil de SP, pedindo um plano de contingência.

    Suplicy conversou com o presidente da Sabesp, Jerson Kelman. A Sabesp diz que em apenas sete endereços dos listados na reunião havia registro de interrupção no abastecimento. "Foram feitas vistorias nesses locais e foi constatado que havia problemas de instalação."

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