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    Queda de aeronave acaba com sonho de unir uma família

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    05/04/2015 02h00

    Raquel Cunha/Folhapress
    CARAPICUIBA- SP - 03.04.2015 - Lidia Harue Sakuramoto Yamanaka é dona da casa aonde aconteceu a queda do helicoptero que matou 3 pessoas eThomaz Alckmin, filho do governador Geraldo Alckmin (PSBD). s filhos de Lidia; Gabriel Yamanaka, 12, e Leonardo Yamanaka, 10 (dir), estavam a 7 metros do local do acidente. Com a casa interditada eles estão sem luz e hospedados na casa de uma vizinha. (Foto: Raquel Cunha/Folhapress, COTIDIANO) ***EXCLUSIVO***
    Acidente interditou a casa de Lidia Yamanaka, 49, e seus filhos, Gabriel, 12, e Leonardo, 10 (à direita)

    Escoltada por um policial em sua própria casa, Lidia Yamanaka sentiu o estômago revirar, os olhos lacrimejarem e a cabeça latejar de dor quando entrou na residência. O cheiro de querosene, nas palavras dela, era "forte, insuportável". Sem luz e proibida de acender velas, ela tinha ido buscar roupas para os dois filhos, que passavam frio do lado de fora, na rua.

    A visita foi rápida. Não durou nem dez minutos. Pouco depois das 22h de quinta (2), ela, antes de sair, espiou na penumbra a obra que construía nos fundos do terreno: "Meu Deus! Destruiu a casa dos meus sogros", disse, com a voz ainda embargada.

    Chamada pela família de "casa de hóspedes", a residência, num anexo de 300 m², foi atingida diretamente pela queda do helicóptero da empresa Seripatri que provocou a morte de cinco pessoas, entre elas o filho caçula do governador de São Paulo, Thomaz Rodrigues Alckmin.

    O acidente, na tarde de quinta, ocorreu no bolsão residencial Fazendinha, uma área verde que abriga condomínios com 700 imóveis de classe média alta em Carapicuíba, na Grande São Paulo.

    Especialista em melhoria de processos e qualidades, Lidia Harue Sakuramoto Yamanaka, 49, vive na casa da frente com o marido, Marcos Toshio, e os filhos, Gabriel, 12, e Leonardo, 10, além de três cães: os golden Amanda, 5, e Nala, 2, e o shih tzu Nick, 17.

    Desde fevereiro de 2014, a família Yamanaka erguia, nos fundos do terreno, a residência de hóspedes, localizada a 7 metros da casa principal.

    A nova morada abrigaria os sogros de Lidia, em idade avançada, e o cunhado dela, de 35 anos, com um tipo de paralisia cerebral –hoje, os três vivem em Interlagos, zona sul da capital. A estreia do domicílio também teria outro desígnio: o de celebrar os 20 anos de casamento de Lidia e Marcos, a serem completados no próximo 27 de maio.

    Em aferição preliminar na manhã de sexta (3), ficou constatado que a queda do helicóptero destruiu a área de serviço, a cozinha, a sala e o lavabo da nova residência.

    O prejuízo material é de pelo menos R$ 300 mil, calcula Lidia. "Estava quase pronta. Faltava só colocar parte do piso, pia, granito e pintar."

    COMEÇAR DE NOVO

    Na hora da queda do helicóptero, os filhos Gabriel e Leonardo disputavam uma partida de playstation "Fifa Soccer 15", com dois amiguinhos na sala de tatame.

    A empregada estava na cozinha. Com o estrondo, eles pensaram que se tratava de queda de avião. Deram uma olhadela pela porta de vidro e viram o helicóptero caído sobre a casa anexa. Assustados, saíram correndo em direção à vizinha da frente.

    Às 17h17, Leonardo ligou, de um celular emprestado, para a mãe. Ela não reconheceu o número, mas atendeu. Escutou o relato do filho mais novo. Logo pensou em um trote, uma piada tardia. "Hoje é 2 de abril. O dia da mentira foi ontem, Léo", brincou.

    Ao ouvir a versão da funcionária, porém, entrou em desespero. "Meu medo era que os estilhaços da aeronave tivessem atingido os meninos", conta Lidia em entrevista iluminada por velas, na casa de uma vizinha, enquanto destroços do helicóptero eram retirados de sua casa.

    Ela ligou para o marido, que foi buscá-la no escritório –o casal trabalha em São Paulo. "Ainda bem que ele veio dirigindo. O trânsito, sempre complicado, me pareceu ainda mais lento, caótico, desesperador", lembra.

    Quando os dois chegaram à rua Lagoa, onde moram, a via estava bloqueada pela polícia. "Só disse para o policial: 'Por favor, eu preciso ver os meus filhos'. Naquele momento, minhas pernas tremiam", afirmou. Eram 20h12, quando, finalmente, pais e filhos vieram a se reencontrar.

    Em casa, a família tenta superar o trauma. A morada de hóspedes, contudo, está com as estruturas abaladas devido à tragédia, o que pode levar a obra para a estaca zero.

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