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    Herdeiro de Villas Bôas quer tirar nome do pai de parque em São Paulo

    PEDRO IVO TOMÉ
    DE SÃO PAULO

    12/04/2015 02h00

    "Não vejo meu pai sendo homenageado por um enrosco desse." A frase é de Noel Villas Bôas, 38, filho do sertanista Orlando Villas Bôas (1914-2002), em referência ao parque municipal com o nome de seu pai na Vila Leopoldina (zona oeste de SP).

    O local foi fechado em março, após ação do Ministério Público que apresentou um laudo indicando a presença de substâncias tóxicas no parque, com riscos para a saúde dos frequentadores.

    Por isso, a família Villas Bôas quer tirar o nome de Orlando do local, desistindo de levar para o parque um acervo com mais de 10 mil objetos do sertanista, um dos três irmãos Villas Bôas responsáveis por desbravar o país na década de 1940 e idealizar o Parque Nacional do Xingu (MT).

    "Agora que o parque está fechado e que seu futuro é cada vez mais incerto, não sabemos se o município vai fazer o parque de fato, se vai abandonar a área ou devolvê-la para a Sabesp", diz Noel, cuja família mora na Vila Leopoldina desde 1987.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Parte do terreno pertence à estatal e está sob concessão da prefeitura até agosto. Nele, funcionava uma estação de tratamento de esgoto, que foi desativada há 26 anos, mas que até hoje abriga equipamentos repletos de lodo.

    A empresa também mantinha ali uma oficina de conserto de caminhões e transformadores elétricos, que usavam um lubrificante de alto potencial cancerígeno. Além disso, há metano no local, segundo a Promotoria.

    De acordo com o Ministério Público, a responsabilidade pela descontaminação é da Sabesp, que poluiu a área, e da prefeitura, que tem permissão para usar o local.

    Nos anos 2000, a prefeitura, em parceria com o escritório do arquiteto Ruy Ohtake, fez um projeto em quatro fases para implantar o parque em dois terrenos vizinhos, um da Sabesp e outro da prefeitura, num total de 260 mil m².

    A primeira fase da proposta foi concluída em parte do terreno da estatal por R$ 4,5 milhões, e o parque foi aberto em 2010 pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) e pelo governador José Serra (PSDB) sem ser descontaminado.

    A prefeitura chegou a fazer uma oferta pelo terreno da Sabesp, que recusou a proposta. A Folha questionou a municipalidade e a empresa sobre os valores da negociação, mas não teve resposta.

    "A prefeitura ofertou R$ 70 milhões, mas a Sabesp queria R$ 240 milhões", diz Gláucia Prata, 58, presidente da associação Movimento Popular de Vila Leopoldina, que vem brigando pelo parque há 15 anos.

    Para ela, a Sabesp e a prefeitura, que passam por problemas financeiros, foram "empurrando" a situação para não assumir os custos.

    Balanço divulgado em março pela Sabesp apontou queda de mais de 50% no lucro da estatal em 2014. Já a prefeitura tem uma dívida que a impede de tomar empréstimos, dificultando investimentos.

    "Não justifica perdermos um parque, mesmo com área contaminada, se tem como resolver. Se o perdermos, pode apostar que vão vendê-lo para uma incorporadora construir mais um condomínio", reclama Gláucia.

    Fabio Braga/Folhapress
    Área do parque Orlando Villas-Boas, que está fechado ao público desde março por suspeita de contaminação do solo
    Área do parque Villas-Boas, que está fechado desde março por suspeita de contaminação do solo

    OUTRO LADO

    Em nota, a Sabesp afirma que deve concluir uma avaliação ambiental da área até outubro, mas não respondeu porque não elaborou um plano de manejo do terreno após o decreto de criação da área.

    Já a prefeitura afirma que a Sabesp é a "única responsável" pela elaboração dos estudos sobre análise da eventual contaminação do parque e que a secretaria municipal do Verde e Meio Ambiente não tem registros de indícios de contaminação na área cedida.

    Procurada, a assessoria de imprensa do PSD disse que todas as áreas contaminadas foram isoladas antes do parque abrir, sem acesso ao público.

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