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    Caso de militar acusado pela mulher de matar filho tem reviravolta no CE

    LUCAS REIS
    DE SÃO PAULO

    18/04/2015 02h00

    Subtenente do Exército em Fortaleza, Francileudo Bezerra Severino, 45, não teve expediente no quartel no dia 11 de novembro de 2014. Fez seus exercícios, buscou os dois filhos na escola, passou no mercado e, ao chegar em casa, acudiu a mulher, que estava passando mal. Deitou-se na rede, como sempre fazia para ver TV, e apagou.

    Acordou dias depois, na cama do hospital militar onde trabalha, recuperando-se de um envenenamento que o deixou em coma por dez dias. Estava sob vigília, preso, suspeito de matar o próprio filho.

    Reprodução
    à esq, Francileudo Bezerra, 45,; à dir, Lewdo Severino, 9 e sua mãe, Cristiane
    à esq, Francileudo Bezerra, 45,; à dir, Lewdo Severino, 9 e sua mãe, Cristiane

    O que se passou nas horas em que Francileudo apagou –e das quais não se recorda– foi revelado pela polícia de Fortaleza cinco meses depois, em uma grande reviravolta.

    Naquela noite, a mulher dele, Cristiane Coelho, 41, ligou desesperada para a polícia. Contou que o marido a espancou e a dopou, matou o filho de nove anos, autista, com altas doses de Rivotril, deixou uma carta de confissão no Facebook e, em seguida, tentou suicídio, também com o ansiolítico.

    Ela não contava que Francileudo, com quem era casada havia 13 anos, sobreviveria para se inocentar, segundo a polícia, para quem Cristiane arquitetou o crime.

    TV Verdes Mares/Reprodução
    Lewdo Bezerra, 9, que morreu envenenado em 2014
    Lewdo Bezerra, 9, que morreu envenenado em 2014

    A investigação apontou que ela comprou veneno para ratos, o chumbinho, e misturou ao vinho do marido e ao sorvete de morango do filho mais velho, Lewdo Severino, 9. Depois, forjou ter sido agredida, escreveu a carta no Facebook passando-se pelo marido, telefonou para a polícia e relatou sua versão de vítima.

    "Acordei numa cama de hospital sem saber o que havia acontecido. Primeiro, disseram que eu estava com intoxicação alimentar. Apenas alguns dias depois me contaram que fui envenenado e que estava preso, acusado de envenenar meu filho", afirmou Francileudo à Folha.

    "Meu mundo desabou. Estava me recuperando no hospital e, quando ouvi a história que ela contou, piorei. Tive hemorragia e fui obrigado a realizar uma nova cirurgia".

    FIOS SOLTOS

    Procurado pela reportagem, o advogado de Cristiane, Paulo Quezado, disse apenas que ela está em uma "crise psiquiátrica" e não respondeu se sua cliente é inocente ou culpada. À imprensa local, a mulher se disse inocente.

    Cristiane terá sua prisão pedida pela polícia e deve ser indiciada sob suspeita de homicídio triplamente qualificado e tentativa de homicídio. Atualmente, está no Recife, com Lucas, 5, seu outro filho.

    Durante os dias em que Francileudo esteve internado, a imprensa local noticiava o crime bárbaro do subtenente que teria espancado a mulher e matado o filho.

    Ele foi ouvido ainda no hospital pelo delegado Walmir Medeiros, que começou a notar fios soltos na história contada pela mulher.

    Laudos mostraram que pai e filho ingeriram veneno, e não Rivotril. A confissão no Facebook de Francileudo havia sido reeditada no horário em que ele já estava em coma. No notebook do casal, encontraram mais indícios: no Google, Cristiane fez perguntas relacionadas ao chumbinho.

    "Ela fez tudo aquilo que a gente [policiais] aprende na faculdade", afirma o delegado Medeiros. "Ela passou a usar as redes sociais discutindo com as pessoas, assumiu postura de culpa", diz.

    "Nove dias após o crime, ela contou que encerrou o Facebook do marido. Perguntei se ela tinha a senha. Ela disse que não. Ninguém encerra o Facebook sem ter a senha".

    Com o celular dela em mãos e um software que recuperou os dados apagados, tudo veio à tona. Segundo a polícia, Cristiane tem um amante no Recife. A suspeita é que a pensão militar do marido e um seguro de vida possam ter servido de motivação.

    "Ela montou um personagem. Desde 2012 tratava de uma depressão. Naquela noite [do crime], ela fingiu desmaio. Já perdi várias noites de sono me perguntando se ela tinha ódio de mim, do meu filho. Enquanto estávamos agonizando com veneno, ela estava digitando na internet", disse Francileudo.

    "Não tenho ódio, pena, nenhum sentimento. Para mim, ela é nada, apenas um ser que respira", afirmou. "Só quero Justiça. Que ela pague o que fez. Não por mim, mas pelo meu filho. Meus dois filhos são autistas. Quero retomar a vida com o que restou."

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