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    Casa de garrafa PET vira parte do cenário de nova novela da Globo

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    19/04/2015 02h00

    Uma porta giratória de garrafas PET e a "recepção" de quem visita o famoso "castelinho" verde de Paraisópolis.

    É difícil não se impressionar com a quantidade de plástico usada para construir parte da casa, do telhado, dos muros e até da decoração. Uma poltrona, por exemplo, é toda feita dos recipientes.

    Antenor Clodoaldo Alves Feitosa, 51, conta os detalhes. "São 27.034 garrafas. Coloquei a primeira em 2008".

    A casa dele aparece no comercial da novela da Globo.

    Ao todo, foram contratadas 120 pessoas da favela para trabalhar na produção da trama –50 delas como figurantes.

    Feitosa diz ter colocado a primeira garrafa após subir na laje da casa e se sentir num deserto de blocos vermelhos sem reboco. "Construí para ficar no meio do verde e me sentir na natureza", afirma.

    Além de também aparecer no comercial, o produtor cultural Jeferson do Nascimento, 27, atuou na produção. Nascido na favela, ele criou um grupo de teatro para dar aulas a jovens de Paraisópolis.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "A novela é um caminho cheio de portas para quem trabalha com artes. Temos de explorá-lo", afirma Santos.

    Ele ajudou os produtores da Globo em dicas de segurança e na escolha de cenários para as gravações.

    "Quando começam as filmagens, a gente pede silêncio, mas sempre tem um gritinho: 'Ahh, casa comigo'. Então temos de acalmar, dizer que o artista vai aparecer depois, e o pessoal ajuda".

    NOVOS FAMOSOS

    Antes mesmo de começar, a trama já produz "famosos" na favela. Por onde passa, MC Sacana, 27, é cumprimentado por crianças. "Você é o que aparece no comercial, né? Viu, eu falei pra você", diz um menino para um amigo após tocar na mão do artista.

    Sacana diz que a aparição de destaque na chamada da nova atração já se reflete na agenda. "Eu estava meio parado havia dois meses. Agora, vou fazer um CD com dez músicas inéditas e tenho três shows marcados para maio".

    INSPIRAÇÃO

    Diretor de "I Love Paraisópolis", Wolf Maya disse à Folha que a ajuda dos moradores foi essencial para a elaboração do enredo. "Além de inspiradores, eles são nossos parceiros desde o início. O balé, a orquestra, a associação e muitas atividades locais estão em nosso dia a dia [na novela] e inspirando personagens criados a partir deles", afirma.

    Oferecer espaço para as reivindicações dos moradores, entretanto, foi uma condição para que as gravações fossem autorizadas pela comunidade de Paraisópolis.

    Já nas primeiras cenas divulgadas da novela, personagens discutem as duas principais demandas dos habitantes da área: a reurbanização da favela e a construção do sonhado monotrilho.

    Um dos autores da novela, Alcides Nogueira conta que conversava com o outro autor, Mario Teixeira, sobre como a região –em que a enorme favela e um bairro de classe alta fazem divisa– poderia render uma bela história.

    "É fascinante você ter um bairro como o Morumbi colado a uma das maiores comunidades de São Paulo. Queríamos entender como esses dois universos interagem, e a partir disso surgiu o protagonista, o Benjamin, interpretado por Maurício Destri, e começamos a nossa trama", diz.

    Mario Teixeira conta que se surpreendeu com a favela desde as pesquisas iniciadas no local antes das gravações. "Paraisópolis tem esse olhar cultural e artístico que nos deixou em êxtase. Os moradores têm muito orgulho da maneira como vivem, trabalham", diz.

    Vídeo: FELIX LIMA e ISADORA BRANT | Edição: DIEGO ARVATE

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