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    Brasileiro buscará último apelo para evitar fuzilamento hoje na Indonésia

    RICARDO GALLO
    ENVIADO ESPECIAL A CILACAP (INDONÉSIA)

    28/04/2015 02h00

    A defesa de Rodrigo Gularte, 42, fará um último apelo ao governo indonésio, mas admite ser improvável evitar a execução do brasileiro.

    O fuzilamento dele e de mais oito pessoas está marcado para os primeiros minutos de quarta (29), meio da tarde de terça (28) no Brasil, e ocorrerá na ilha de Nusakambangan, em Cilacap, a 400 km da capital Jacarta.

    O paranaense Gularte será o segundo brasileiro executado no exterior em tempos de paz. O primeiro foi o carioca Marco Archer, 53, morto em janeiro nessa mesma ilha.

    Ele foram condenados por tráfico de drogas –Archer em 2004 e Gularte em 2005– e tiveram os pedidos por clemência rejeitada pelo presidente da Indonésia, Joko Widodo.

    Arquivo pessoal
    A família do brasileiro Rodrigo Gularte, que está no corredor da morte por tráfico de drogas na Indonésia
    A família do brasileiro Rodrigo Gularte, que está no corredor da morte por tráfico de drogas na Indonésia

    O governo brasileiro e os advogados de defesa tentaram nesta segunda (26) novos recursos para evitar a execução, mas o pedido não tem efeito suspensivo, ou seja, não é capaz de interromper o processo de fuzilamento.

    Gularte tem esquizofrenia constatada por dois laudos médicos. Segundo advogados e o governo brasileiro, ouve vozes e fala coisas sem sentido. A Procuradoria-Geral da Indonésia fez uma avaliação médica em Gularte, mas o resultado jamais foi divulgado.

    O órgão tem dito que não há na legislação sobre a pena de morte nenhuma objeção à execução de um doente como o brasileiro.

    Prima de Gularte, Angelita Muxfeldt, acompanhará a execução a cerca de um quilômetro do local do fuzilamento –não é permitido a familiares e advogados ficar na área.

    Abatida, tensa e com os olhos marejados, ela não quis dar entrevistas nesta segunda-feira. Com ela estará um representante da Embaixada do Brasil em Jacarta.

    Caberá ao diplomata reconhecer o corpo, que será limpo e vestido, provavelmente com um terno, para então ser levado a uma funerária.

    Pela manhã, Angelita visitará o primo pela última vez. A mãe do brasileiro, Clarisse Gularte, não viajou à Indonésia –a família temia pelo seu estado de saúde diante da provável execução do filho.

    A pedido da família e do próprio Gularte, um padre irlandês radicado em Cilacap estará no local. A lei permite que um religioso, de escolha do condenado, dê conforto espiritual minutos antes do fuzilamento. Ele dará a extrema-unção ao brasileiro.

    Além do brasileiro, serão mortos três nigerianos, dois australianos, um ganense, uma filipina e um indonésio.

    As execuções ocorrem ao mesmo tempo, embora haja um pelotão de atiradores para cada um, composto por 12 pessoas. Os condenados são amarrados a cruzes, vestem camiseta branca e recebem um "X" preto na altura do peito, para facilitar a mira.

    Apenas três dos fuzis são carregados com balas de verdade, de modo que quem atire não sabe se deu o tiro fatal.

    Editoria de Arte/Folhapress

    HOMEM BOM

    Nesta segunda-feira, parentes de vítimas chegavam aos hotéis de Cilacap, a cidade mais próxima da ilha de Nusakambangan. Uma delas era a indonésia Angela Intan, 19, namorada de Raheem Agbaji Salami, 42. Com lágrimas nos olhos, ela dizia que o namorado era um "homem bom" e que não merecia morrer.

    Salami escreveu uma carta a Angela em março. "Eu tenho que agradecer e dizer adeus à minha amada Angela Intan, que esteve ao meu lado nos momentos felizes e tristes. Obrigado por tudo, pelo tempo que passamos juntos. Ter te conhecido e te amado foi um presente e, mesmo que por um período curto de tempo, teve grande significado na minha vida."

    Ela diz ter conhecido Salami na igreja que fica dentro de uma das prisões e que há nove meses começaram a namorar. Triste, afirmou ter "esperança" de que haja reviravolta, embora o advogado do nigeriano, Utomo Karim, tenha dito que só "orações" fariam as execuções serem adiadas.

    O caso de Gularte e do nigeriano nem de longe são os de maior repercussão. As atenções estão voltadas principalmente para os australianos Andrew Chan e Myuran Sukumaran, presos por tentar entrar com heroína na Indonésia. A Austrália é o principal parceiro comercial da Indonésia e o governo australiano criticou o vizinho e chegou a ameaçar desestimular seus turistas de viajarem ao país do Sudeste Asiático.

    Advogados de todos os prisioneiros pediram o adiamento das execuções. Dos dez inicialmente selecionados para execução, o único a ter obtido adiamento foi o francês Serge Atlaoui, que tem recurso pendente na Justiça.

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