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    Crise da água

    Conheça alguns dos rios que foram enterrados com a urbanização de SP

    GUILHERME MAGALHÃES
    DE SÃO PAULO

    04/05/2015 02h00

    Na cidade de São Paulo, não importa o local, ninguém está a mais de 300 metros de distância de um curso d'água, afirma o geógrafo Luiz de Campos Junior. A frase pode soar estranha em uma metrópole acostumada com a selva de asfalto e concreto que deixa pouco espaço para seus rios, córregos e riachos correrem a céu aberto.

    Mas eles estão lá, no subterrâneo, correndo em galerias após serem tamponados.

    A Prefeitura de São Paulo tem, mapeados e nomeados, 280 cursos d'água. Esse número, porém, é muito maior, diz Campos, um dos fundadores da iniciativa Rios e Ruas, que desde 2010 mapeia os rios e córregos subterrâneos da capital paulista.

    O grupo trabalha com uma estimativa de 300 a 500 cursos d'água escondidos sob ruas e avenidas. Juntos, eles somariam cerca de 3.000 quilômetros de extensão, outro número que também pode ser maior que a estimativa.

    Editoria de Arte/Folhapress

    DEDO DO HOMEM

    Intervenções humanas na natureza dos rios da capital existem desde pelo menos o século 19, quando já se poluía o rio Tamanduateí, que nasce na serra do Mar e percorre a zona leste de São Paulo.

    Em 1894, teve início a discussão do projeto de retificação do curso do rio, cuja obra seria concluída em 1916. Foi o primeiro dos grandes rios da capital paulista a ser canalizado para escoar o esgoto dos bairros localizados próximos a ele.

    A partir dos anos 1920, ganham força os projetos de canalização e retificação dos rios paulistanos. As obras no rio Pinheiros têm início em 1928, seguindo até meados dos anos 1950. Dez anos mais tarde, é a vez do rio Tietê, que só na década de 1970 ganharia a "cara" que tem hoje.

    O momento coincide com a popularização do automóvel como meio de transporte da classe média paulistana, que precisava de vias para melhorar o acesso às partes mais remotas da cidade. A capital paulista estava em franca expansão e "engolia" municípios vizinhos, como Santo Amaro.

    TRATAMENTO

    "Tem que pensar em como não sujar a água. A gente teve uma política que enterrou completamente os rios. Em vez de cuidar, enterrou tudo para o povo não poder usar", afirma o geógrafo Campos Júnior. "Mesmo com os visíveis as pessoas não têm contato, não chegam perto."

    O ideal, segundo ele, seria um tratamento que preserve o curso d'água a céu aberto e que mantenha alguma sinuosidade do rio. "A pior maneira de canalizar um rio é o tamponamento." Esse processo cria uma galeria ou tubulação enterrada que recebe, junto com a água da chuva, toda a sujeita das ruas e até ligações de esgoto. "Tudo isso ocorre sem que possamos ver ou ter contato com a condição do rio", diz Campos.

    Em tempos de crise hídrica, esse contato é fundamental. Pensando nisso, o Rios e Ruas montou, em parceria com outros grupos ligados a defesa dos rios, um programa piloto que vai analisar a água de dez nascentes nas zonas norte e oeste da capital paulista.

    Dois critérios serão observados: a nascente precisa manter um fluxo constante de água e ser acessível à população.

    Após o teste, os locais serão sinalizados para que os moradores conheçam os possíveis usos para a água daquela nascente. Se a iniciativa der certo, a ideia é expandir o programa para outras nascentes da cidade.

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