Após divergências públicas com a Prefeitura de São Paulo sobre a recente operação na cracolândia, a Polícia Militar decidiu deslocar 60 soldados para 'ocupar' a região de forma permanente.
Na manhã desta terça (5), havia pelo menos dez carros da PM fazendo rondas e abordagens nas vias próximas à concentração de usuários de crack –situação muito diferente da verificada pela Folha logo após a operação.
A mudança se dá após um impasse entre as gestões Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), que trocaram acusações em meio à retirada de barracos da área.
O secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, dizia não ter sido avisado da iniciativa da prefeitura para desmontar a "favelinha" e atribuía os problemas na cracolândia a uma questão social, e não policial.
Já Haddad falava que as ações estavam coordenadas e que cabia à polícia a repressão ao tráfico de drogas.
A Folha mostrou que na quinta (30), um dia após a operação, a cracolândia estava lotada de GCMs (Guarda Civil Metropolitana), ligados à prefeitura. Eles impediam sozinhos a reconstrução da "favelinha", enquanto os policiais militares tinham praticamente desaparecido.
O coronel Celso Luiz Pinheiro, responsável pelo policiamento na região central, disse que 60 PMs foram deslocados para trabalhar na cracolândia desde sexta (1º).
"São soldados em término de formação, vindos de CPAs (Comando de Policiamento de Área) de toda a capital. Eles estão divididos em dois turnos para reforço do policiamento e transmitir uma sensação de segurança para a população", afirmou.
Pinheiro diz que não há nenhuma previsão para que esse reforço policial diminua.
Nesta terça, PMs revistavam pedestres na avenida Rio Branco, alameda Barão de Limeira e outras vias da região.
LINHA DIRETA
Diante do desconforto criado com declarações do secretário estadual, Haddad disse que agora negocia sobre a ação na cracolândia diretamente com Geraldo Alckmin.
"Eu estou falando direto com o governador para evitar qualquer problema desse tipo. Falamos no final de semana. Ele [Alckmin] é um apoiador do programa e acho que estamos no caminho certo."
No dia anterior, o governador disse ter orientado o secretário Alexandre de Moraes a trabalhar junto com a prefeitura na cracolândia.
"[A] Polícia Militar deve dar toda a retaguarda para a Guarda Civil Metropolitana. Traficante é criminoso e precisa ser preso, e a polícia está trabalhando permanentemente. É trabalhar juntos", afirmou Alckmin.