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    Fluxo da cracolândia mudou três vezes de lugar desde a ação da prefeitura

    GIBA BERGAMIM JR.
    DE SÃO PAULO

    06/05/2015 02h00

    Desde a semana passada, a aposentada Dalva Pires Camargo, 70, caminha com a cadela Bia sem se deparar com a concentração de centenas de viciados em crack –imagem frequente até então no cruzamento da alameda Cleveland com a rua Helvétia, na Luz (região central de SP).

    A uma quadra dali, o comerciante Armando Pereira levou um susto com a multidão de dependentes que voltou a se acotovelar na porta de seu estúdio de fotografia, na alameda Barão de Piracicaba, o que não ocorria desde 2013.

    Os dois exemplos são efeitos colaterais da operação na cracolândia da gestão Fernando Haddad (PT) e da PM na última quarta-feira (29), que provocou a migração do fluxo de viciados em crack.

    Se numa esquina da região o vaivém de traficantes e dependentes em busca de pedra sumiu, na quadra ao lado a muvuca de usuários de drogas ganhou corpo.

    De quarta para cá, o fluxo mudou três vezes de lugar. Primeiro, saiu da antiga "favelinha" –que foi desmontada durante a operação– e foi parar na esquina das ruas Dino Bueno e Helvétia.

    Ali, dependentes químicos foram atingidos por tiros de raspão disparados por um PM que atuava à paisana e acabou agredido ao ser descoberto. Após a confusão, o aglomerado se mudou para a Barão de Piracicaba, onde ficou até o dia seguinte. Em seguida, voltou à Dino Bueno.

    No fim da tarde de terça (5), eles perambulavam em busca de pedras de crack ao lado do largo Coração de Jesus. Na área, um programa que oferece atividades esportivas e artísticas para cerca de 80 crianças e adolescentes diariamente ocorre desde 2012. O medo de professores do Projeto Despertar é que, em um eventual confronto entre viciados e PMs, acabe sobrando para as crianças.

    "Na semana passada, no dia da confusão, cancelei as aulas. Não acho que os 'noias' vão abordar crianças, mas, se tiver confronto, sobra gás [lacrimogêneo] e pedras para todos", disse um professor que pediu anonimato.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Usuários de drogas se reúnem na esquina entre a rua Helvetia e a alameda Dino Bueno, no centro de SP
    Usuários de drogas se reúnem na esquina entre a rua Helvetia e a alameda Dino Bueno, no centro de SP

    VISTA DA 'FAVELINHA'

    Mesmo felizes com a saída da "favelinha", moradores do edifício Miri –que dava vista privilegiada do fluxo– estão descrentes com a manutenção da paz no terreno vizinho, antes lotado de barracas. "Por enquanto, está bom. Vamos ver até quando", afirmou dona Dalva, moradora do prédio há 18 anos.

    O mesmo "pé atrás" tem seu vizinho Wesley Carvalho, 22. "Já fui assaltado por 'noias' aqui na porta, de manhã. Mesmo indo para a outra esquina, a gente sabe que [a cracolândia] não vai acabar."

    O avanço do fluxo em direção à Barão de Piracicaba tirou o sono de comerciantes como Armando Pereira. "Quando vimos que voltaram para cá, ficamos em pânico. Agora, estão na rua de trás. É triste vê-los nessa situação, mas temos que trabalhar também", afirmou.

    Funcionário de um estacionamento em frente ao largo, Djalma dos Santos, 57, diz que o movimento de pessoas em busca da garagem desabou. "Com eles [viciados] bem aqui, o pessoal ficou com medo e deve estar estacionando mais longe", declarou.

    O fluxo deixa pais de alunos de escolas da região em alerta. "Nunca fizeram nada, mas, nos dias de operação, acabam se espalhando, o que gera um medo", disse Adriana Cordeiro Pedroso, 32, que circula pela região da cracolândia para levar seu filho de 4 anos ao colégio Liceu Coração de Jesus.

    FLUXO REDUZIDO

    A gestão Haddad diz que a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana cercaram a área e que o fluxo de usuários foi reduzido devido à adesão de cerca de 80 pessoas ao programa Braços Abertos, que dá emprego e moradia aos usuários. Há 583 pessoas no programa, diz a administração.

    Segundo a prefeitura, muitos dependentes deixaram a área após a proibição de barracas e colchões no local.

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