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    Em invasão de sem-tetos em SP, 'kit barraco' sai por R$ 39

    FABIANO MAISONNAVE
    DE SÃO PAULO

    18/05/2015 02h00

    Pouco mais de 36 horas após o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) invadir dois terrenos na região sul da Grande São Paulo, dezenas de famílias passaram a tarde deste domingo (17) erguendo barracos movidas pela expectativa da casa própria.

    "Só hoje entraram umas cem famílias", especulou Jussara Basso, coordenadora do MTST da área tomada no Jardim dos Reis, em Itapecerica da Serra. A grande maioria, explica, são moradores da região que ainda não haviam tido nenhum contato com o MTST.

    Antes de se inscrever para o movimento, as famílias são orientadas a montar o seu barraco dentro da área invadida. Ao longo do terreno acidentado e de aspecto rural, já havia algumas dezenas de tendas erguidas ou sendo levantadas.

    Vendo uma oportunidade de negócio, o comerciante Raimundo Conceição, 43, passou o domingo vendendo um "kit barraco": por R$ 39, o cliente saía com quatro metros de lona preta e cinco longas ripas de madeira.

    "Estou aqui desde ontem, mas acho que o pessoal não está muito confiante nesse acampamento, não. Hoje, só vendi uns 40 metros de lona", disse Conceição, morador da região, diante do seu pequeno caminhão.

    A cerca de 4 km, o segundo terreno invadido na madrugada do último sábado (16) tinha uma movimentação mais intensa de pessoas carregando pedaços de madeira, lona e objetos pessoais para dentro do acampamento.

    "Está chegando muita gente, não tenho ideia de quantas pessoas já entraram", afirmou a coordenadora da invasão no Jardim Batista, em Embu das Artes, Cleik Sousa, 37. "Ainda não dá para fazer a numeração dos barracos."

    Por volta das 16h15, cinco PMs em duas viaturas estacionaram na entrada do acampamento e pediram para falar com os coordenadores. Na conversa, o tenente da PM André afirmou que só retirará o acampamento caso haja determinação judicial e fez algumas recomendações.

    "Agora é só o André falando, não é o tenente. Primeira coisa, sejam felizes. Segundo coisa, façam um loteamento digno. Terceira coisa: não permitam que os seus filhos se relacionem com drogas, com coisa errada. Porque aí vai entrar polícia, com o tratamento daquele jeito, entendeu?", afirmou.

    Por enquanto, não há nenhum mandado de reintegração de posse contra as invasões. Na quinta-feira (21), haverá uma reunião na Prefeitura de Embu das Artes sobre o terreno, segundo o MTST.

    As ações fazem parte de uma ofensiva para pressionar a presidente Dilma Rousseff a iniciar a terceira etapa do Minha Casa Minha Vida (MCMV), principal programa federal para a moradia popular. O MCMV 3 está atrasado e prevê 3 milhões de novas moradias até 2018.

    Após a ação do último fim de semana, o MTST passou a ter cerca de 6.000 pessoas em áreas invadidas na Grande São Paulo.

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