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    Jovem cultiva 50 pés de maconha dentro de casa em São Paulo

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    24/05/2015 02h00

    Antes mesmo de entrar no cômodo do segundo andar de um sobrado na zona leste de São Paulo, é possível sentir o cheiro de flores. Quatro lâmpadas de alta potência iluminam o ambiente abafado de cerca de 10 m², onde 19 pés de maconha balançam embalados por dois ventiladores.

    Juan [nome fictício] gasta até três horas por dia para se dedicar à plantação que cultiva desde 2011, oito anos após ter tragado o primeiro baseado. Mais 31 pés em fase de crescimento ficam em outro cômodo da casa simples onde ele mora com os pais e a irmã.

    Ele afirma ter começado a cultivar a planta para não recorrer a traficantes. "Eu gosto de fumar e, para isso, vou ter que plantar ou comprar. Prefiro plantar", diz.

    As primeiras mudas foram doadas por amigos. "Nunca importei sementes. Eu comecei a cultivar a partir de clones, depois transformei em plantas adultas e as multipliquei", afirmou.

    PRISÃO

    Por mais discreto que tente ser, Juan já teve sua plantação denunciada, o que levou à visita de policiais à casa dele.

    "Eu cultivava havia dez meses e algumas plantas já estavam no início da floração [próximo à época da colheita]. Eu estava no serviço quando recebi uma ligação do meu pai falando que a polícia estava em casa", lembra.

    Os policiais disseram ter chegado ao local após uma denúncia anônima. Um advogado, segundo ele, conseguiu provar que o cultivo era para consumo próprio, e não para o tráfico. "Eu fiz um curso no Denarc [departamento de narcóticos] de prevenção às drogas e fui liberado."

    Desde então, o cultivador passou a ter mais cuidado com as visitas e só permite a entrada de pessoas de confiança na casa dele. Mesmo assim, ele afirma ter receio de ser denunciado novamente.

    Procurado pela reportagem, o delegado titular do Denarc, Ruy Ferraz Fontes, afirma que o cultivo de maconha como é feito por Juan é considerado tráfico de drogas, cuja pena pode chegar a 15 anos de prisão. "Se a quantidade pudesse ser configurada como consumo pessoal, o flagrado teria apenas que assinar um termo circunstanciado de porte de drogas", disse.

    A legislação brasileira considera crime o porte, o consumo e a venda de drogas. A lei, porém, não especifica uma quantidade para diferenciar o tráfico do consumo.

    A Secretaria da Segurança Pública informou que as apreensões da droga cresceram 658% no primeiro trimestre deste ano em São Paulo. Foram 580 kg de maconha apreendidos de janeiro a março de 2014 contra 4,4 toneladas no mesmo período de 2015.

    O psiquiatra da Unifesp especializado em dependência química Dartiu Xavier da Silveira explica que o uso crônico de maconha pode causar problemas como diminuição da agilidade e da atenção.

    A droga também pode desencadear transtornos como síndrome do pânico e psicose em pessoas com histórico familiar dessas doenças. O consumo não é recomendado a adolescentes, pois a droga pode prejudicar o desenvolvimento cerebral.

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