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    País tem 30 mil crianças em abrigos fora da fila de adoção

    JULIANA COISSI
    DE SÃO PAULO

    23/05/2015 02h00

    Todo sábado, Isabela, 6, vê desenhos da "Peppa Pig" no celular do padrasto, enquanto come biscoitos dados pela mãe. Seria uma cena típica em família, não fosse o fato de a menina viver longe deles.

    Isabela mora em um abrigo infantil em Diadema, na Grande São Paulo, onde o casal a visita. Nos desenhos que faz na escola, no entanto, pinta uma casa onde está com a mãe, o padrasto e os seis irmãos.
    As sete crianças chegaram à instituição neste ano, após denúncia de negligência.

    Isabela (todos os nomes deste texto são fictícios), os irmãos e outras 30 mil crianças vivem em um limbo comum em abrigos no país. São as chamadas "nem-nem": nem vivem com os pais em casa nem estão inscritas no Cadastro Nacional da Adoção.

    Das 36 mil crianças recolhidas em instituições, aponta um censo do governo federal, somente 5.633 estão aptas a serem adotadas.

    As principais razões são que a maioria mantém um vínculo familiar —com chance de voltar para casa- ou a destituição do poder familiar, necessária para adoção, ainda está em curso na Justiça.

    Para a maior parte dessas crianças, abrigos são como um pronto-socorro, diz o juiz Reinaldo Carvalho, da ABMP, que reúne juízes e promotores da Infância e Juventude.

    Editoria de arte/Folhapress

    "É o lugar onde se protege a criança até que ela possa voltar para casa", afirma.

    Mas, segundo Carvalho, o tempo da família se restabelecer "é muito lento perto do tempo da criança".

    Filhos são apartados do lar em casos de maus-tratos, abuso e negligência —ficar sem comer ou ir à escola.

    Pela lei de 2009, uma criança deve permanecer em abrigo por até dois anos, mas é comum o prazo se estender. João, 18, chegou aos seis na unidade em Diadema e só foi adotado aos 16. Pelo censo de 2014, 28% vivem em instituições há mais de dois anos.

    Inspeção do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) aponta queda de 12% no número de crianças abrigadas nos últimos dois anos.

    Mesmo na fila da adoção, há crianças em contato com a família biológica. Usuária de crack que mora nas ruas, a mãe de Pedro, 11, pode vê-lo no abrigo quando está sóbria.

    "Passei o Natal com minha mãe, meu pai, tia e meus irmãos", conta ele. No começo do ano, o pai dele foi preso.

    A falta de apoio à família é um dos fatores para a longa internação das crianças.

    "Antes de chegar à situação de abrigo, muitas vezes a mãe já reclamou de falta de creche para deixar os filhos ou de curso profissionalizante para ela", afirma a promotora Geny Marques, do CNMP.

    NOVO SISTEMA

    Para otimizar o tempo dos juízes e acelerar a busca de um lar para uma criança, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) lançou em março um novo sistema do Cadastro Nacional da Adoção.

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