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    Futuro do Minhocão opõe morador a ativista

    EMILIO SANT'ANNA
    PEDRO IVO TOMÉ
    RICARDO GALLO
    DE SÃO PAULO

    23/05/2015 02h00

    De cara para o Minhocão, o viaduto mais mal falado de São Paulo, o cotidiano é de barulho contínuo, com fumaça e vista para áreas degradadas.

    O futuro, porém, pode ser um respiro verde sobre a av. São João e a rua Amaral Gurgel ou a demolição dos 3,4 km que cortam a região central.

    Inaugurado em 1971, na gestão do então prefeito Paulo Maluf, o viaduto tem data para ser desativado, segundo o recente Plano Diretor: 2029.

    O que será do gigante de concreto depois disso vai depender do embate ideológico entre dois grupos —e de como a prefeitura vai se posicionar.

    De um lado, moradores e comerciantes locais e urbanistas -que querem que o Minhocão seja demolido.

    De outro, arquitetos, fotógrafos, advogados e também alguns moradores -que desejam ali um parque linear, nos moldes do High Line, de Nova York, instalado em antiga linha férrea suspensa.

    Desde agosto de 2013, o grupo pró-parque se organiza na Associação Parque Minhocão. Para um de seus idealizadores, o fotógrafo Felipe Morozini, 39, que mora no local, a área, na prática, já está estabelecida para lazer.

    "O parque já existe, informalmente. Milhares de pessoas frequentam e usam como área de lazer todas as noites e aos domingos", diz.

    A associação conseguiu reunir mais de 7.000 assinaturas em apoio ao parque e ao fechamento da via também aos sábados —que se converteu em projeto de lei na Câmara, aprovado em primeira votação e que irá para segunda votação na semana que vem.

    Para quem teme que a parte de baixo do elevado continue abandonada e insegura, mesmo com a instalação do parque, Morozini afirma que o projeto engloba a requalificação do espaço com a instalação de mobiliário urbano, paisagismo, iluminação e mais áreas de lazer.

    CONTRA

    Entre os que querem a demolição do Minhocão, os argumentos são pelo fim do ruído excessivo, da fuligem causada pelos carros, da paisagem degradada e da desvalorização dos imóveis.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "A sujeira e o barulho não param. Tenho que lavar a cortina e os tapetes de três em três meses. Mas, e o pulmão da gente, como lava?", diz o advogado José Geraldo Santos Oliveira, 60, do Movimento Desmonte Minhocão. Tirar o elevado dali desenvolveria a economia da região, diz.

    A entidade é contra a transformação do local em parque ("seria mais caro do que desmontar") e critica a proposta de fechá-lo para carros aos sábados. "Quem quer implantar área de lazer não mora aqui", afirma Oliveira.

    Há bons exemplos, diz a associação, de desativação de minhocões para o surgimento não só de parques, mas praças e rotatórias —como em Seul (Coréia do Sul), Barcelona (Espanha) e Seattle (EUA).

    Na quinta (21), o grupo propôs a demolição ao prefeito Fernando Haddad (PT).

    Em debate na "TV Folha", o engenheiro Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela USP, disse que transformar o Minhocão em parque pode piorar a deterioração.

    "Se matarmos a alternativa viária que é o Minhocão, mantendo a estrutura, embaixo vai ficar mais congestionado. O comércio, que tenta sobreviver, vai terminar de morrer."

    Já o vereador Police Neto (PSD) avaliou que, embora seja a melhor opção futura, a demolição demora —e, por enquanto, já vale ter um parque.

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