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O padre Paolo Parise, em frente à igreja onde recebe imigrantes no centro de São Paulo |
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Cotidiano
Sunday, 22-Dec-2024 09:10:12 -03'Estou cumprindo uma missão', diz padre que abriga haitianos em SP
THAIS BILENKY
DE SÃO PAULO24/05/2015 02h00
No domingo passado (17), mais de mil pessoas se reuniram na paróquia Nossa Senhora da Paz, no Glicério (centro de São Paulo), para o Dia da Bandeira, celebração da independência do Haiti.
Foram servidos pratos típicos e bebidas alcoólicas. Bandas e rappers haitianos se apresentaram. O padre Paolo Parise, 48, estava exausto.
Completava uma jornada de 16 horas sem descanso. E ainda teria que ajudar a equipe, composta por cerca de 50 funcionários e outros três padres, a limpar o salão da festa, onde têm dormido quase duas centenas de refugiados.
O número tende a aumentar. O governo Tião Viana (PT), do Acre, anunciou, no início da semana, que quase mil imigrantes viajariam a SP. O prefeito Haddad (PT) e o governo Dilma (PT) dizem que não foram avisados.
O município afirmou que procuraria um abrigo. O governo federal suspendeu as viagens saindo do Acre. Mas, ainda na sexta (22), 43 haitianos aportaram na cidade.
Sobrou para a paróquia. Com colchonetes no chão, caldeirões de sopa à noite e aulas básicas de português, a Missão Paz, organização católica da qual o padre faz parte, acolhe os imigrantes.
Em geral, Parise, italiano da região do Vêneto, acredita estar cumprindo a sua missão. Mas, às vezes, sente-se impotente. "Você arruma emprego para 20 e logo chegam mais 50. O estresse é psicológico e físico", descreve, em português fluente com resquício do sotaque italiano. "A equipe está sobrecarregada."
Que o prove a agenda de Paolo. Seus dias têm começado às 7h e terminado à meia-noite. O celular não para.
Mas Parise parece treinado a lidar com adversidades. Mostra encantamento com cenas corriqueiras. Vê beleza nas tradições de pessoas mesmo quando estão no extremo da sobrevivência.
A festa da Bandeira era um desses momentos. Achava "maravilhosa" a liberdade com que os haitianos se expressavam por meio da língua crioula, da dança e da música. Mas tudo tem limite.
Às 23h30, o padre teve que, enfim, dizer não. "Dançar? Não, obrigado. Prefiro olhar sentado", recusou com o bom humor e o afeto costumeiros.
Parise consagrou-se o padre dos haitianos em São Paulo. Chama-os pelo nome. Recebe visitas daqueles que, anos depois de instalados, ainda o procuram. Celebra casamentos e batizados.
A maioria é evangélica. Mas não só os 30% católicos se apegam. Todos estabelecem uma relação, que começa pela confiança, ele nota. A espiritualidade "aflora um pouquinho depois", uma vez digerido o drama da migração.
O fato é que a presença haitiana nas missas de domingo é assídua. "Quando começamos com 'bonjour' [bom dia em francês], rostos se iluminam", observa Parise.
CENAS DE CINEMA
Sua missão não foi sempre essa. Na primeira passagem por São Paulo, entre 1999 e 2007, Parisi morou em favelas da zona sul e viveu "verdadeiras cenas de cinema".
O padre narra uma delas, com direito a briga entre mulheres, fuga de carro e mordida no braço. O trabalho com jovens logrou reduzir a violência, diz Parise, levando-o a se mudar.
"Somos parte de um grupo de padres meio malucos que, quando está tudo bem, vão embora", relata. Por ora, não há sinal de trégua. Mas que não venham tratá-lo como herói. "Eu infarto", brinca.
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