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    'Sommelier' de maconha é referência entre adeptos de cultivo da cannabis

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    24/05/2015 02h00

    "Maconha é como vinho. Tem diferentes cheiros, sabores e efeitos. Só plantando para ter controle de cada um deles e saber qual consumir."

    Depois de viajar por dez países para discutir o cultivo e a regulamentação do consumo da droga, o designer William Lantelme Filho, 39, passou de um simples ativista para um especialista –em provar a erva.

    Lantelme virou referência entre cultivadores após fundar o portal Growroom em 2002 –o maior sobre o tema em português. A ideia surgiu quando ele estudava design na Alemanha e tinha de plantar a maconha que fumava devido ao alto custo da droga.

    "Isso me incentivou a criar o projeto para que mais pessoas deixassem de fomentar o tráfico", conta o ativista.

    O portal reúne notícias sobre presos por cultivo, informações sobre uso medicinal e até receitas, como o hambúrguer de maconha.

    "Existem 80 tipos diferentes de canabinoides [substâncias encontradas na planta]. Cada um deles tem um efeito diferente", explica.

    É proibido o cadastro de menores de idade no site, bem como a venda de produtos.

    COPA

    O Growroom tem 10 mil acessos diários e um fórum com 65 mil membros. Com a intenção de promover o encontro entre eles, Lantelme criou a Copa Growroom –como fazem os vinicultores.

    "As pessoas se reúnem para provar diferentes tipos de vinho nas copas. Isso pode ocorrer com a maconha também, devido aos inúmeros tipos de aromas", afirma.

    Mas uma ação da polícia após o evento que ocorreu em Porto Alegre (RS) no fim de 2013 pôs fim aos planos de novos encontros no Brasil.

    Isso porque os policiais classificaram como "um deboche" um vídeo na internet em que os participantes fumam e analisam maconha.

    Para não correr mais riscos, Lantelme estuda marcar em outro país. "A gente está vendo a possibilidade de fazer no Uruguai [onde é permitido o uso recreativo]."

    Ao menos cinco pessoas estão presas no Brasil por cultivar maconha. O delegado titular do Denarc (departamento de narcóticos), Ruy Ferraz Fontes, explica que essa prática leva à prisão se considerada como tráfico, cuja pena pode chegar a 15 anos.

    "Se a quantidade pudesse ser configurada como consumo pessoal, o flagrado teria apenas que assinar um termo circunstanciado", afirma.

    A legislação brasileira considera crime o porte, o consumo e a venda de drogas. A lei, porém, não especifica uma quantidade para diferenciar o tráfico do consumo.

    O psiquiatra especializado em drogas e dependência química Dartiu Xavier explica que o uso crônico de maconha pode causar efeitos colaterais e agravar doenças.

    "O usuário pode sentir que tem mais dificuldade em focar a atenção, por exemplo", diz.

    Xavier afirma que a proibição do cultivo no Brasil é um atraso, prejudica as pesquisas e faz o usuário consumir algo que não conhece a procedência."

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