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    Rio de Janeiro

    Mãe diz que filho rouba, mas não matou médico no Rio

    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    26/05/2015 02h00

    A catadora de latas Iara, 54, não tem dúvidas em afirmar que o filho de 16 anos não está envolvido na morte do médico Jaime Gold, 57, na terça (19), na lagoa Rodrigo de Freitas. Confia na palavra do adolescente, que já havia relatado outros crimes, mas negou o latrocínio.

    "Quando vimos a notícia na TV ele estava do meu lado e perguntei se ele tinha alguma coisa a ver com aquilo. Outros crimes ele pode ter praticado. Este, não", afirma.

    O adolescente também negou o crime em depoimento ao Ministério Público nesta segunda-feira (25). Após acompanhar o filho na Vara da Infância, em Olaria (zona norte), Iara (nome fictício) voltou à comunidade de Mandela, de cerca de 9.000 moradores, onde conversou com a Folha.

    Divulgação
    ONG Rio de Paz faz ato no local onde médico foi esfaqueado durante assalto na lagoa Rodrigo de Freitas
    ONG Rio de Paz faz ato no local onde médico foi esfaqueado em assalto na Lagoa Rodrigo de Freitas

    Por várias vezes disse que o filho não esfaqueou o médico. Mas justificou outros delitos cometidos pelo filho.

    "Jovem de bolso vazio e tempo livre pensa em roubar os outros. Eles precisam de trabalho, de estudo. Eles precisam entender que a vida não é colorida. É dura."

    De acordo com ela, os abrigos não recuperam os infratores. O filho tem 16 passagens pela polícia, das quais 11 por roubos ou furtos na zona sul.

    "Duvido que, se eles tivessem trabalho na internação, de 9h às 17h, não iam dar valor, se cansar. Mas entram lá e ficam comendo e dormindo. Isso corrige quem?"

    Iara disse não esquecer o dia em que o médico foi esfaqueado. Segundo ela, os únicos R$ 2 que tinha no bolso foram dados ao filho para jogar videogame.

    "Até pensei que não teria como comprar pão no dia seguinte, mas Deus sempre ajuda, né?! Ele sempre foi muito ligado a futebol e videogame. Nunca foi de estudar muito."

    Segundo a catadora, as facas que os policiais da Divisão de Homicídios levaram eram usadas por ela para cortar fios ou latas.

    "Minhas digitais estão nelas. Podem estudar", diz.

    Iara afirma que sempre falou para o filho não participar de roubos. Não queria nada disso em sua casa. Por isso, diz, insistiu que ele estudasse: o garoto passou por três escolas antes de ficar sem ocupação.

    "Ele já roubou cordão, celular e bicicleta, mas nunca trouxe nada para casa. Você nunca deve possuir coisas dos outros. Repeti várias vezes", diz ela.

    A catadora afirma que não abandonou o filho, assim como os outros três, de 13, 23 e 25 anos. Em 2011, ela foi indiciada pela polícia sob suspeita de abandono.

    "Se tivesse abandonado ele, teria dado ao nascer, na maternidade Bonsucesso. Alguém ia saber? Trabalho demais, mas meus filhos nunca passaram fome. Cheguei a ir com ele à psicóloga, mas não deu certo. Sou a favor que ele cumpra pelas coisas que pegou, mas essa não foi ele."

    A mulher diz que os outros filhos não têm envolvimento com o crime, embora estejam desempregados e fora da escola.

    Segundo Iara, todos sofrem pela falta de programas sociais. Ela lamenta que o filho de 16 anos não tenha cumprido, anteriormente, qualquer medida de internação.

    "O meu filho deve uma medida socioeducativa. Mas liberaram ele na sexta e ele não voltou na segunda. Ninguém volta. É uma vergonha. Aí, pergunto ao senhor: por que ainda votamos? Os políticos vêm aqui, prometem e depois de eleitos nem aparecem. E nossos jovens ficam sem nada para fazer", disse.

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