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    Minha História

    Osmar Fratini, 52

    'Não me acho herói, tive sorte', diz piloto de avião de Huck e Angélica

    (...) Depoimento a
    RICARDO GALLO
    DE SÃO PAULO

    26/05/2015 02h00

    Editoria de Arte/Folhapress

    Com 31 anos de profissão e 8.500 horas de voo, Osmar Fratini, 52, fez neste domingo (23) o que considera a aterrissagem mais difícil da carreira.

    Sem conseguir chegar ao aeroporto de Campo Grande (MS), pousou um Embraer 820C em uma fazenda. Nos bancos de trás estavam Luciano Huck, Angélica, os três filhos do casal e duas babás. Ninguém se feriu. Fratini diz que não se acha herói. "Tive sorte."

    Reproducao/TV Globo
    Osmar Fratini, 52, piloto do avião em que estavam os apresentadores Angélica e Luciano Huck
    Osmar Fratini, 52, piloto do avião em que estavam os apresentadores Angélica e Luciano Huck

    *

    Quando aconteceu, eu já estava negociando com o controle de tráfego aéreo o procedimento de aproximação para pouso em Campo Grande, a uns 10 minutos para chegar. Estava a 5.500 pés [1.676 metros] e 225 nós [416 km/h], porque a etapa de voo é curta e não dava para subir muito. Era por volta de 9h40.

    O painel do avião tem alguns alarmes e acusou uma pane, um entupimento no filtro de combustível. Acendeu a luz do filtro primeiro no motor esquerdo e depois no direito. O motor esquerdo perdia potência. Para descer, precisava de 800 libras de potência, e o motor estava só com 400. Estava abaixo da velocidade recomendada.

    Fiquei então voando com o motor direito, mas comecei a perder altitude e potência —e eu já tinha passado dos aeroportos para os quais podia alternar. Não ia dar para chegar a Campo Grande.

    Já havia caído para 3.200 pés [975 metros] e estava perdendo velocidade. O avião voava àquela altura a 120 nós [222 km/h], perto da velocidade de estol [148 km/h], que é quando a aeronave perde sustentação e cai. Ficamos olhando para fora para encontrar um lugar. Decidi então planar e pousar numa fazenda. Eu trabalho há 15 anos nessa empresa e conheço bem a região. E isso ajudou.

    O Luciano [Huck] é dono de avião, ele percebeu o que havia. No início da situação ele chegou em mim e falou: "Comandante, estamos em monomotor, não?".

    Então, a Angélica começou a gritar: "Ai, meu Deus, os nossos filhos. A gente não pode perder nossos filhos". Foi um grito de desespero. O Luciano foi um paizão, porque pegou essa parte que eu e o copiloto teríamos que fazer —acalmar os passageiros. Ajudou muito, porque eu me concentrei em fazer meu papel, de voar o avião.

    E eu estava quase impotente, sem saber o que ia acontecer mais adiante. Na verdade eu já tinha feito tudo o que era para ser feito. O avião não tinha potência segura para voar mais. Íamos chegar um momento em que atingiríamos a velocidade mínima de controle, o nome já diz, depois dali o avião estola e cai igual uma pedra.

    Não podia deixar acontecer isso aí, fui obrigado a pousar o avião na fazenda, aproveitando o resto de velocidade que a aeronave tinha, cortei os motores, não abaixei o trem de pouso para não capotar.

    Pedi ao pessoal para tirar os óculos, porque podia machucar, e colocar o cinto. As três crianças estavam sentadas, como os outros passageiros. Quando vim para pouso, já estava baixo e vi um lote de gado. Pulei o gado e o avião deslizou uns 400 metros.

    Mas aí tinha uma curva de nível na fazenda, como se fosse lombada, uma terra arada colocada em elevação para evitar erosão. Daí o avião bateu e subiu uns cinco metros, virando 90 graus para esquerda. Todo mundo atrás estava gritando. Puxei o manche para o lado e não sei como ele obedeceu, foi voltando ao normal, caiu no chão, andou uns 30 metros e parou.

    Os passageiros gritavam o tempo todo, assustados, e eu e meu copiloto fazendo a nossa parte, graças a Deus. Nunca tinha passado por nada parecido. Tenho que agradecer ao Luciano, ele foi 100%.

    Não me acho herói de forma nenhuma. Não fiz isso sozinho. Teve o José Flávio [copiloto]. Se não fosse ele, não teria conseguido a sorte de salvar todo mundo. Nós temos essa experiência, a gente procura fazer aquilo que aprendeu com o tempo. O importante foi salvar essas vidas.

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