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    PF prende ex-chefe de braço armado da Camorra acusado de 26 mortes

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA
    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    26/05/2015 12h45

    Após viver no Brasil com o nome falso de Francisco de Castro Visconti no Recife (PE) por quase 30 anos, o italiano Pasquale Scotti, 56, apontado pela polícia italiana como um dos mafiosos foragidos mais procurados do país, foi preso às 7h desta terça-feira (26) por uma equipe da Polícia Federal.

    Segundo as autoridades italianas informaram ao Brasil, Scotti foi o chefe do "braço militar" de um grupo mafioso denominado Nova Camorra Organizada, de Nápoles, e que tinha como líder principal Raffaele Cutolo, que cumpre prisão perpétua.

    Scotti chegou a ser preso na Itália em 1984, mas escapou no mesmo ano do hospital em que estava custodiado, em Casoria. Desde então não foi mais visto e, segundo a PF, chegou a ser dado como morto por ex-mafiosos.

    A Itália atribui a Scotti a participação em um total de 26 assassinatos na Itália entre 1980 e 1983, além de extorsão, porte ilegal de armas e resistência.

    Scotti foi levado à sede da Superintendência da PF no Recife. A PF já pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) sua transferência para um presídio de segurança máxima. O governo italiano tem prazo de 90 dias para pedir ao Supremo a extradição de Scotti.

    Após a notícia da prisão de Scotti, autoridades da Itália, como o ministro do interior Angelino Alfano, comemoraram na imprensa italiana a detenção do mafioso. "Um tiro surpreendente marcado por nossa equipe italiana junto com a valiosa cooperação da polícia do Brasil. A caça aos fugitivos ultrapassa à fronteira do nosso país", disse.

    Divulgação
    Mafioso italiano Pasquale Scotti foi preso pela Interpol em Recife (PE)
    Mafioso italiano Pasquale Scotti foi preso pela Interpol no Recife (PE)

    PASQUALE SCOTTI

    Segundo o chefe da Interpol no Brasil, o delegado da PF Valdecy Urquiza Júnior, Scotti chegou por volta de 1986 ao Brasil com documentos falsos –os detalhes sobre sua entrada no país não foram revelados. No início da década de 1990, Scotti conseguiu, também com papéis falsos, uma cédula de identidade brasileira com o novo nome brasileiro.

    Instalou-se então no Recife, onde conheceu uma mulher brasileira há 18 anos, com quem teve dois filhos. Segundo Urquiza, Scotti "não ostentava riqueza, procurava se resguardar e não se apresentava muito em público". No Recife, Scotti dirigia uma empresa de fogos de artifício e estava ligado a empreendimentos imobiliários, segundo a PF.

    No momento da prisão, Scotti disse à PF, segundo Urquiza, que "Pasquale Scotti não existia mais, eu sou só Francisco", procurando proteger sua família, alegando que ela não tinha conhecimento de sua passado na máfia. A PF não tem indícios de que a família soubesse de seus antecedentes criminosos.

    A polícia brasileira chegou a Scotti a partir de informações obtidas pela Interpol italiana em fevereiro. O oficial de ligação da Interpol no Brasil, Roberto Donati, veio a Brasília, compartilhou as informações com a PF e passou a trabalhar em conjunto com a Interpol brasileira.

    INVESTIGAÇÃO

    A PF começou a investigar o assunto há cerca de 40 dias, a partir das informações italianas. De acordo com o delegado, a investigação focou a princípio "em pessoas e empresas de fachada, em sua maioria no Nordeste". A partir disso, a PF localizou "diversos imóveis relacionado ao grupo" e por fim "à primeira identidade de Pasquale".

    A confirmação da identidade foi feita a partir da comparação das impressões digitais que constavam do banco de dados da polícia italiana com o prontuário da identificação civil de "Francisco de Castro Visconti" registrado em Pernambuco.

    Em entrevista coletiva na sede da PF em Brasília nesta terça-feira (26), o diretor da Interpol na Itália, Genaro Capulongo, afirmou que a captura de Scotti "é importantíssima, é das mais importantes realizadas até hoje. Scotti é considerado um dos mais perigosos fugitivos italianos". "Procuramos ele por muitos anos no mundo inteiro", disse Capulongo.

    De acordo com Capulongo, Scotti era o chefe do grupo militar "de uma organização de uma família chamada Nova Camorra Organizada, que ficou em guerra, em contraposição, com outras famílias, entre elas a Nova Família Organizada, e essa guerra causou dezenas de mortes".

    TOMMASO BUSCETTA

    Este não é o primeiro mafioso italiano detido no Brasil. Em 1972, o ex-chefe da máfia siciliana Tommaso Buscetta (Don Masino) foi extraditado para a Itália, onde ficou por oito anos. Durante esse período, ele fez um acordo com o juiz Giovanni Falcone e expôs boa parte das ações da máfia.

    Deixou a prisão e voltou para o Brasil em 1981, quando mais de 20 de seus parentes foram mortos na guerra com os Corleone. Dois anos depois, a polícia o prendeu novamente e Buscetta foi extraditado para a Itália.

    Buscetta era chefe da família Porta Nuova, de Palermo (capital da Sicília), que integrava a Cosa Nostra. O clã foi dizimado em guerra dentro da organização pelo controle do crime organizado nos anos 1970 e 1980. A disputa foi vencida pelos Corleone. Para escapar da morte, o mafioso fugiu para o Brasil em 1970.

    Em 1992 a máfia dinamitou o carro do juiz Falcone, matando-o. Buscetta começou uma nova rodada de colaboração e nela entregou as conexões da máfia com políticos, inclusive o ex-primeiro ministro Giulio Andreotti. Graças a essa nova fase detonou o coração da máfia com o poder.

    Em 1985, Buscetta foi mandado para os EUA, onde morou até morrer de câncer em 2000, aos 71 anos, sob proteção do FBI.

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