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    Total de fumantes cai 30%, mas hábito ainda atinge um em dez brasileiros

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    28/05/2015 14h25

    O número de fumantes caiu cerca de 30% no país nos últimos nove anos, mas o hábito de fumar ainda permanece entre um em cada dez brasileiros, apontam dados do Ministério da Saúde divulgados nesta quinta-feira (28).

    Hoje, 10,8% dos brasileiros são fumantes. Em 2006, esse percentual era de 15,6%, de acordo com a pesquisa Vigitel, que monitora fatores de risco para a saúde.

    Ao mesmo tempo em que o número de fumantes diminui, o consumo de cigarros ilegais cresce no Brasil. Em cinco anos, o percentual de fumantes que consome cigarros ilegais passou de 2,4% para 3,7%, segundo dados inéditos do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

    Nas cidades próximas à fronteira com o Paraguai, o consumo de cigarro ilegal é ainda maior, e atinge 40,4% dos fumantes.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Para o ministério, políticas como o aumento no preço dos cigarros, a proibição da propaganda e o aumento no rigor das leis antifumo colaboraram para a redução do número de fumantes no país.

    O governo avalia, no entanto, que a redução poderia ter sido maior se não houvesse o crescimento do mercado ilegal de cigarros.

    "É preocupante. Com isso, perdemos impostos e o impacto da política de preços, o que inibe o consumo", disse o ministro da Saúde, Arthur Chioro.

    "A nossa ação fiscalizatória [contra o tabagismo] produz resultado aqui, mas aumenta o núcleo dos fabricantes no outro país que acabam tendo vantagem com essa ação. Se não tivermos uma ação coordenada no combate ao comércio ilegal, não teremos o resultado esperado", afirmou.

    A pesquisa Vigitel ouviu 40.853 pessoas maiores de 18 anos, entre fevereiro e dezembro de 2014. Ela é feita desde 2006 em todas as capitais do país, por inquérito telefônico e é considerada uma das principais pesquisas na Saúde. A margem de erro varia entre as categorias –sendo a mais elevada de 3%.

    MENOS CIGARROS

    Com a redução no hábito de fumar no país, também cresce o número de pessoas que agora se declaram como ex-fumantes ou que afirmam ter tentado parar de fumar no último ano. Hoje, 21,2% dos brasileiros já afirmam terem deixado o cigarro.

    Na outra ponta, aumenta entre os fumantes o desejo de parar de fumar: em cinco anos, o percentual daqueles que tentaram largar o vício passou de 45% para 51%.

    O grande incentivo é o preço: mais de metade dos fumantes pensaram em parar de fumar por esse motivo. Dados da Receita Federal mostram que o preço dos cigarros cresceu 90% nos últimos cinco anos.

    Com a maior restrição e a mudança nos hábitos, a população que ainda fuma tem diminuído o número de cigarros: em 2006, 4,6% dos fumantes consumiam mais de 20 cigarros ao dia, um percentual que caiu para 3% no ano passado.

    Entre a população, o hábito de fumar é maior na faixa etária de 45 a 54 anos (13,2%), e menor entre jovens de 18 e 24 anos (7,4%).

    Já a capital com maior proporção de fumantes é Porto Alegre, onde 16,4% da população fuma regularmente. A menor proporção é em São Luís (5,5%).

    Veja vídeo

    AVANÇOS E BRECHAS

    Entidades de controle do tabagismo comemoraram a redução, mas ainda apontam brechas nas políticas em vigor.

    Paula Johns, da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), vê falhas na fiscalização, o que leva ao aumento do comércio ilegal. "Não há inteligência coordenada entre todas as autoridades responsáveis", afirma ela, que aponta ainda outras brechas nas leis em vigor, como o uso de displays que chamam a atenção para os produtos nos pontos de venda e o patrocínio de eventos pelas indústrias.

    Já Tânia Cavalcante, da Conicq (comissão de controle do tabaco), aposta na adesão do Brasil a um protocolo de combate ao comércio ilegal feito em parceria com outros países para que a redução de fumantes seja ainda maior. "O Brasil tem feito bastante, mas é quase como enxugar gelo se não tiver qualquer ação dos países vizinhos".

    Em nota, a Abifumo, que representa as indústrias de cigarro, disse apoiar as iniciativas de repressão ao comércio ilegal de cigarros, que já alcança 31% do mercado e "representa uma ameaça para a sociedade como um todo".

    Para a associação, outras medidas regulatórias propostas por grupos antitabagistas, como a restrição da exposição dos produtos nos pontos de venda, são "excessivas" e "contribuem para o crescimento do mercado ilegal".

    A Abifumo não comentou sobre a redução no número de fumantes no país.

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