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    Estudantes desmaiam após brincar de 'invocar espírito' em escolas do AM

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    30/05/2015 02h00

    Adolescentes socorridos em macas, desmaios e vômitos. Em cinco escolas de Manaus, uma brincadeira que visava "invocar espíritos" terminou com esse cenário na quarta (27) e na quinta (28).

    O problema ocorreu com estudantes de 12 a 14 anos.

    O caso envolveu Conselho Tutelar, Secretaria da Educação e até um padre.

    O ritual, divulgado nesta semana em diversos vídeos na internet, consiste em "conversar" com espíritos que, de acordo com os jovens, se manifestariam pelas palavras "sim" e "não" escritas em uma lousa ou papel. Dois lápis, em forma de cruz, indicam a resposta do além.

    Em redes sociais, a divulgação da brincadeira, batizada de "Charlie Charlie", era atribuída a parte da ação promocional de um filme.

    Relatos de que os adolescentes viram demônios, invocaram espíritos malignos ou chamavam por pessoas que já morreram tomaram conta das escolas em Manaus.

    Muitos alunos, traumatizados, deixaram de ir às aulas na quinta-feira (28). A situação fez a direção da escola José Carlos Mestrinho convocar os pais dos alunos e o Conselho Tutelar para uma reunião.

    Houve casos semelhantes em outras quatro escolas, segundo a Secretaria da Educação e o Conselho Tutelar.

    "Vi amigas vomitando e com muita tontura. Eu só fiquei com tontura, mas foi muito assustador", disse a aluna Maria (nome fictício), 13.

    A conselheira tutelar Danielle Pimenta dos Santos, que foi à escola, disse que foi preciso passar em todas as salas de aula para orientar os alunos a evitar a brincadeira.

    "Houve tumulto, com muitos adolescentes dizendo que tinham incorporado espíritos. Hoje [ontem], iam brincar de novo com isso nas salas, mas pedi para evitarem e buscarem orientação, pois eles são facilmente estimulados", afirmou.

    O padre José Amarildo Luciano da Silva, da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro Educandos, disse que foi procurado por famílias preocupadas.

    "As características indicam histeria coletiva, não a presença do diabo. As famílias têm de saber onde e com quem seus filhos estão andando."

    Nelson Pedro-Silva, docente do departamento de psicologia da Unesp de Assis (no interior de São Paulo), concorda com a hipótese de histeria coletiva. "Os sintomas que apresentaram indicam perda do controle, típico da adolescência", disse.

    Ele afirma que, no fundo, o comportamento dos jovens tem como objetivo protegê-los. "Com a sensação de ansiedade elevada, o organismo reage assim."

    A Secretaria da Educação do Amazonas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que os estabelecimentos tomaram "as providências cabíveis na tentativa de restabelecer a ordem" e que as ocorrências estão sendo acompanhadas.

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