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    Transsexuais se dizem excluídos da Parada Gay

    EMILIO SANT'ANNA
    FERNANDO MOLA
    DE SÃO PAULO

    07/06/2015 02h00

    Aos poucos, elas ganham destaque. Na última semana, Caitlyn Jenner foi o centro das atenções ao aparecer publicamente pela primeira vez na capa de uma revista, a "Vanity Fair". Jenner é mais conhecida por ser medalhista olímpica e ex-padrastro da midiática Kim Kardashian.

    Laverne Cox foi eleita pela "Time" uma das cem pessoas mais influentes do mundo em 2015. Trata-se da atriz da série "Orange is the New Black", fenômeno de audiência.

    A executiva mais bem paga dos Estados Unidos, Martine Rothblatt, e a ex-babá do presidente Barack Obama, Evie, têm algo em comum com elas. Todas são mulheres transexuais.

    Pode parecer que, para esse grupo, representado na sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), tudo vai muito bem.

    Não é o que dizem as ativistas brasileiras. Apesar de contempladas no nome oficial da Parada Gay –na verdade, Parada do Orgulho LGBT–, elas se dizem excluídas do evento.

    Até mesmo o tema deste ano -"Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, respeitem-me"- está longe de ser consenso.

    "Não nos representa", reclama Renata Peron, que por quatro vezes abriu o evento na avenida Paulista cantando o hino nacional -e que diz ter sido preterida neste ano.

    Segundo ela, é errado afirmar que travestis e transexuais nascem com identidade de gênero definida.

    Também é o que pensa Luciano Palhano, 30, coordenador nacional da Ibrat (Instituto Brasileiro de Transmaculinidade). "A gente não nasce de forma alguma [definida], a gente simplesmente nasce."

    A discordância, diz Palhano, é apenas um dos aspectos do que ele chama de invisibilidade da população trans.

    Os avanços conseguidos por gays e lésbicas nas últimas décadas, como a retirada da homossexualidade da lista de doenças da OMS (Organização Mundial da Saúde), não se estenderam aos transexuais, afirma Palhano.

    Para ele, os transexuais também não são ouvidos pela organização da Parada Gay.

    OUTRAS DIFERENÇAS

    Dentro da sigla LGBT, as diferenças são tantas que o próprio universo do evento, com os "gogo boys" (dançarinos) e a música eletrônica, não agradam a todos.

    "Acho que é porque eles [organizadores] são homens", diz Peron. "Toda a cultura da parada é construída ao redor do homem gay cisgênero", completa Palhano.

    Em tempo: cisgênero é a classificação de todas as pessoas que não são transexuais.

    Presidente da Associação da Parada LGBT, que organiza o evento, Fernando Quaresma afirma que as reclamações são infundadas.

    Segundo ele, todas as entidades são convocadas para a organização e para a discussão do tema. "Mas nem todos comparecem e, depois, dizem que não concordam", afirma.

    Sobre o tema, ele diz: "Não estamos discutindo as mudanças no corpo [referindo-se aos transexuais] mas a uma característica psicológica".

    A 19ª edição da parada ocorre neste domingo, na avenida Paulista, a partir das 10h, em frente ao Masp.

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